Etiqueta Mágica

Ao longo de todos os meus anos de prática mágica tenho observado que muitos dos problemas que surgem entre as pessoas e grupos derivam do fato de que a maioria das pessoas desconhece as noções mais básicas de etiqueta mágica. (E hoje em dia, muitas pessoas desconhecem o uso mais básico das boas maneiras!)

Numa tentativa de facilitar as coisas, tanto para os grupos e praticantes antigos, quanto para novos grupos e novos praticantes, resolvi reunir algumas regras de comportamento nas relações com praticantes de magia, rituais públicos e círculos.

1. Nas relações entre as pessoas:

a) Respeito sim, obediência não.

Seja polido no trato com outros praticantes, particularmente com os que têm mais tempo de prática do que você. Eu já vi muitas pessoas perturbando palestras e workshops, em uma profunda falta de respeito com o tempo e o esforço da pessoa que está te ensinando. Lembre-se, na maioria das tradições e caminhos mágicos um iniciado assume um compromisso de treinar pelo menos uma pessoa na vida. Apenas uma. Assim, nenhum iniciado é obrigado a partilhar os conhecimentos dele com você. Se ele o fizer, entenda isso como uma dádiva e trate a dádiva e quem a está oferecendo com o respeito que ele ou ela merece.

Isso não significa que você deve obedecer a pessoa em tudo, sem questionar. Se algo não parece ser correto para você, não faça. Você também deve a si mesmo o devido respeito.

b) Limpe sua sujeira.

Se você estiver participando de um evento mágico em um local público, não deixe seu lixo para trás. Leve um saquinho com você para recolher qualquer lixo que você produzir. Os organizadores do ritual não são obrigados a sair cantando as coisas que você largar por aí.

Se você estiver participando de um evento na casa de alguém, seja ainda mais cuidadoso. Não deixe seus copos e pratos sujos para serem recolhidos pelos donos da casa. Não esqueça de dar descarga quando usar o banheiro e abaixar a tampa da privada. Se uma porta estava aberta, deixe-a a aberta, se estava fechada, feche-a.

O mesmo vale para lixo energético. Não jogue sua energia nas pessoas. Se você se sentir mal, energizado demais, ou sem energia, tome as providencias necessárias para centrar e aterrar sua energia. Os organizadores do evento não são obrigados a servir de faxineira energética para todos os presentes.

c) Não incomode as pessoas

Não se ofereça para passar a noite na casa das pessoas depois de um evento mágico só porque o evento terminou tarde. Se você não tem como voltar para casa se ficar muito tarde saia mais cedo do local.

Não largue suas coisas espalhadas na casa da pessoa. Não tome liberdades como tirar seus sapatos e largá-los na sala. Não mexa em nada sem perguntar primeiro se pode. Não saia abrindo portas ou armários sem perguntar primeiro. Não saia investigando a casa alheia sem um convite.

Os organizadores do evento não são obrigados a servir de motorista para ninguém e não são obrigados a alimentar um batalhão de praticantes. Procure se informar sobre estes detalhes antes de comparecer. E acostume-se a levar sua contribuição de comida ou bebida.

d) Não roube

Sério, não preciso explicar isso, preciso? Praticantes de magia tendem a juntar ferramentas mágicas e livros. Isso não te dá o direito de pegar um livro e não devolver e muito menos que roubar algo deles. Conheço bruxas que tiveram athames e bastões roubados e por causa disso, nunca mais se abriram para trabalhos em grupo. Todos perdem por causa das ações estúpidas de alguns.

e) Não polua

Antes de acender seu cigarro pergunte se pode. Muitos praticantes de magia gostam de manter sua casa energeticamente limpa, o que significa que não vão querer alguém fumando nela.

Antes de levar bebida alcoólica, pergunte se pode. E não vá a um ritual se você encheu a cara ou usou drogas na noite anterior.

f) Não minta

Não existe nada pior que ouvir alguém dizer que tem 10 anos de prática mágica quando é possível ver claramente pela aura da pessoa que ela é um iniciante.

Não se engane, praticantes sérios de magia são capazes de saber se você é ou não um iniciado. Inventar títulos, tradições e mistérios é o caminho mais curto para o ostracismo mágico. Você conseguirá o respeito de outros praticantes com muito mais facilidade se for honesto.

g) Não invada

A maioria dos bruxos e magos possui escudos, tanto em suas casas, quanto em suas auras. Não tente checar um praticante apenas pelo prazer de fazer isso. Se ele ou ela tiver bons escudos e pouca paciência você pode se machucar seriamente.

Não entre no espaço mágico de outras pessoas sem que elas saibam. Não lance feitiços em outras pessoas sem que elas tenham dado permissão. Não tente fazer scrying em casas de praticantes de magia ou em suas vidas sem permissão.

Algumas pessoas podem confundir um scrying bem intencionado em invasão mágica de privacidade e reagir de forma agressiva.

h) Não toque

Nunca, mas nunca mesmo toque um altar ou instrumentos mágicos de outro praticante sem a expressa permissão dele. E se esta permissão for dada uma vez não assuma que ela será sempre concedida. Peça, todas as vezes, antes de tocar um objeto mágico.

i) Não seja curioso demais

Muitos praticantes gostam de ter seus livros das sombras à mão na hora realizar eventos. Outros gostam de fazer pastas com seus rituais. Não abra uma pasta ou Livro das Sombras de um bruxo sem permissão. Não vá pegando e lendo qualquer material que encontrar no espaço do evento.

j) Não se fixe em vidas passadas

Muitas relações pessoais e mágicas já foram destruídas quando pessoas resolvem “lembrar” de suas vidas passadas. Casos de amor, traições, ameaças, medos, tudo isso pode ser “lembrado” e de repente, uma bela amizade ou relação sacerdotal pode ser destruída porque os envolvidos não conseguem perceber a diferença entre o passado e o presente.

O que quer que tenha ocorrido em uma vida passada ficou no passado e não tem lugar no aqui e no agora.

E porque eu coloquei “lembrar” entre aspas? Porque muitas das supostas lembranças não são nada além de viagens do ego de certas pessoas. Quantas pessoas que juram que foram Nefertiti vocês conhecem? Já repararam que ninguém nunca foi uma escrava, ou um servo em suas vidas passadas? Temos reis, princesas, rainhas. É quase como se só os importantes reencarnassem. Mas a verdade é que tem gente que simplesmente não é capaz de separar o que é viagem de sua imaginação e o que é verdade.

Por via das dúvidas, deixem o que passou no passado, seja lá o que for.

k) Se você não sabe, pergunte

A maioria dos praticantes antigos não se importa em responder a uma pergunta feita com educação. Você não é obrigado a saber nada e se não sabe tem todo o direito de perguntar.

Só que existe um limite entre perguntar algo e tentar provocar seu interlocutor. Não cruze este limite. Se você não concorda com o assunto do evento, levante-se e saia, não cabe a você desmoralizar uma palestra ou workshop só porque não gostou da forma como o assunto está sendo abordado.

Também não cometa o erro de rir de uma pergunta, por mais simples que esta lhe pareça. Pode ser simples para você, mas não para a pessoa que está perguntando.

2. Em eventos e rituais

a) Dentro de um círculo mágico, a palavra do oficiante é lei.

Isso significa que se você está dentro de um círculo mágico e o oficiante te pede para fazer alguma coisa você tem duas opções: faça ou peça para se retirar no círculo.

Não se desrespeita o círculo mágico traçado por outra pessoa. Se você não concorda com o que está sendo feito, peça discretamente para deixar o círculo, mas não desrespeite o ritual que estiver acontecendo.

Normalmente, quando um oficiante deseja que uma pessoa exerça alguma atividade em um ritual, esta pessoa é avisada antes do círculo ter sido lançado. E neste caso, você tem total liberdade para chegar e dizer: “não, obrigado, mas não quero exercer esta função.”

Mas se o círculo já estiver sido traçado, a palavra do oficiante precisa ser respeitada. Ainda assim você tem a opção de se levantar, aproximar-se do oficiante e explicar, discretamente para ele ou ela que você não deseja exercer a função. Se ele ou ela insistir, você tem duas opções, faça ou peça licença e deixe o círculo.

A única exceção a esta regra é o fato de que nenhum oficiante pode te obrigar a comer ou beber alguma coisa dentro do círculo contra a sua vontade. Se chegar às suas mãos um cálice de cujo conteúdo você não deseja beber, simplesmente passe o cálice à frente ou devolva a quem o entregou a você. Sempre, entretanto, com uma atitude respeitosa.

b) Dentro de um círculo mágico, a palavra do oficiante é lei.

Só para ter certeza de que você gravou bem esta regra.

c) Não invoque o que você não consegue banir

Esta é uma das regras mais poderosas da magia, uma das primeiras que se aprende. E muita gente ainda faz besteira.

Não há nada pior do que ter que limpar a sujeira mágica de um iniciante que resolveu invocar alguma entidade para bancar o macho perante os amigos e acabou sujando as calças de medo quando a dita entidade resolveu aparecer. E saiu correndo do círculo largando a tal entidade solta em nosso mundo.

d) Se você não concorda, saia, mas não perturbe.

Se você não concorda com o objetivo de um ritual ou feitiço, saia ou não compareça, mas não tente atrapalhar ou criticar no meio da cerimônia.

Se houver alguém no círculo de quem você não goste, ainda é possível trabalhar juntos magicamente se ambos se focarem no objetivo final. Mas se você estiver se sentindo decididamente incomodado pela presença da pessoa, deixe o círculo, você não tem o direito de atrapalhar as energias de um ritual.

Se você se sentir incomodado com alguém ou alguma atitude durante um ritual e não for possível ignorar e continuar, saia do círculo, mas não comece uma discussão no meio do procedimento.

Se algo ilegal estiver sendo feito e o oficiante ou organizadores forem os responsáveis, saia imediatamente.

Se algo ilegal estiver sendo feito e o oficiante ou organizadores não forem os responsáveis, avise-os imediatamente e saia.

e) Siga as instruções

Se você entrou em um ritual ou evento faça o possível para participar de forma adequada. Siga as orientações que estiverem sendo dadas, faça o que for pedido.

f) Não crie surpresas no círculo alheio.

Não invoque, não evoque, não “receba” coisa alguma dentro do círculo alheio. Não leve ou use nenhuma substância ilegal ou controlada, não vá para o círculo bêbado ou drogado. Não roube o ritual de outra pessoa colocando seus próprios objetivos ou sua agenda. E nunca, sob nenhuma hipótese tente dar um showzinho.

Há algum tempo atrás aconteceu um evento excelente para ilustrar esta regra. Era para ser um ritual para uma determinada Deusa. Mas um dos participantes, com uma certa mania de querer ocupar o centro do palco, achou que precisava dar uma sacudida do ritual. De uma hora para outra ele “recebeu” Lúcifer. Não o Deus da Luz original, mas a versão cristã – o diabo. E deu um show.

A sorte dele é que não havia um único praticante sério ou capaz no círculo. Se houvesse ele provavelmente teria sido retirado do círculo arrastado pelos cabelos. Era o que eu faria se fosse meu círculo.

Eu já estive em vários círculos em que pessoas “subitamente passam mal”, já vi pseudo desmaios, gente “recendo santo”, gente canalizando mensagens de mestres acensos e toda uma gama de palhaçadas.

As pessoas são livres para acreditar no que bem quiserem e dar seus shows onde quiserem, mas nunca, nunca no ritual alheio.

Eu jamais tolerei este tipo de showzinho em meus círculos e a maioria dos praticantes sérios também não. Porque, existe uma lei universal e mágica muito simples que diz que, uma vez que um círculo mágico tenha sido traçado, a menos que o oficiante seja muito incompetente, nada que não tenha sido invocado poderá entrar. O que significa que nenhum santo, nenhum mestre acenso, nenhuma outra divindade que não tenha sido convocada vai entrar. Logo, as pessoas que recebem essas coisas dentro de um círculo estão fingindo, nada mais, nada menos.

A coisa mais severa que eu já fiz com uma pessoa que fingia receber um espírito dentro do meu círculo foi jogar na cara dela um copo de água gelada. Mas conheço magos que fizeram coisas bem piores.

E mesmo que o praticante opte por não tomar nenhuma medida mais drástica, pode ter certeza de que esta pessoa nunca mais será convidada de novo.

Se acontecer de você se sentir mal dentro de um círculo, peça a alguém para abrir uma porta para você e saia. Uma vez lá fora, coloque as palmas das mãos e a testa no chão e deixe que a terra retire qualquer energia inadequada de seu corpo.

Para garantir que não haja perigo de você passar mal em um ritual, nunca vá de estômago completamente vazio e nunca se estiver com febre ou indisposições estomacais e intestinais.

g) Ajude, se a ajuda for aceita

Muita gente adora ajudar. E não percebem que estão ultrapassando certos limites. Tem gente que adora que as pessoas lavem as vasilhas que usaram em sua cozinha, tem gente que se sente invadido. Assim como tem gente que adora que ajudem a montar e desmontar o altar. E tem gente que detesta.

Ofereça sua ajuda, mas aguarde a resposta antes de ir colocando a mão nas coisas. Se a resposta for sim, pergunte como você pode ajudar. Se a resposta for não, fique na sua.

h) Cuide de seus pertences.

Na maioria das vezes, as pessoas que freqüentam eventos mágicos são confiáveis. Mas isso nem sempre acontece. Já houve furtos de todas as formas em eventos mágicos. Assim sendo, leve apenas o necessário e mantenha seus pertences com você ou tranque-os no carro, se este estiver em local seguro.

i) As coisas não precisam ser do seu jeito

Não se irrite se você não concordar como as coisas são feitas. Por mais estúpido, ridículo que possa parecer, não cabe a você julgar se está certo ou errado. Se você não gosta, não volte, não repita. Mas não faça comentários torpes e não atrapalhe o evento.

3. Após o ritual

a) Indo embora

Se o evento for na casa de uma pessoa, não se espalhe depois do ritual. Na maioria das vezes, as pessoas que conduzem um evento terminam cansadas e querem sossego para arrumar as coisas e realizar quaisquer procedimentos que ainda sejam necessários. Assim, tão logo o ritual acabar, vá embora!

E não esqueça de levar embora sua sujeira.

b) Sua opinião

Praticantes de magia adoram saber que as pessoas gostaram de seus rituais. Alguns apreciam a franqueza e gostam de receber mesmo uma crítica negativa. Mas infelizmente, muitos não gostam. Só que qualquer crítica pode ser construtiva se você souber como fazer.

Ao invés de dizer: “olha, o feitiço foi completamente sem noção e eu estava pensando durante a meditação que a pessoa que a conduziu seria perfeita para narrar jogos de futebol no rádio.”

Você pode dizer: “eu não estou acostumada a este ritmo tão puxado na condução da meditação, então estranhei um pouco.” Ou “eu fiquei um pouco confusa durante o feitiço, fiz [descreve], era assim mesmo?”.

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Naelyan Wyvern é a fundadora e Alta Sacerdotisa da Tradição Caminhos das Sombras.