Liberdade sexual





Liberdade sexual

Andei refletindo esses dias sobre as condutas de um pagão e gostaria de falar algo sobre o assunto. Trata-se de liberdade sexual.

Quando as pessoas estão no cristianismo, são educadas que o sexo deve ocorrer apenas após o casamento que, por mais que seja algo sublime, é algo que deve apenas ser compartilhado com o cônjuge. Fazer algo além disso seria um pecado grave. Mesmo pessoas que não necessariamente fazem parte de uma religião acabam aprendendo algo similar, já que nosso país é essencialmente cristão e, portanto, seus preceitos estão bem enraizados nas condutas da sociedade.

Certo, então a pessoa resolve entrar para a Wicca. Nossa! Liberdade sexual, liberdade da expressão de sua sexualidade, sexo é sublime e não deve ser repreendido! A pessoa então se vê livre daquelas algemas para poder fazer o que quiser e expressar sua sexualidade da maneira que bem entender. Isso é ótimo!

Então a pessoa começa a ficar com várias pessoas, transar com quem quiser e com o que quiser. Nada de mal nisso também. Desde que feito com prazer e consentimento de ambas as partes, está tudo bem.

É aí que entram três questões que me fizeram pensar:

A primeira é que a pessoa começa a ir a eventos pagãos exclusivamente pela “pegação”. O foco do evento que seriam os Deuses perde seu valor em detrimentos de festas, sexo e orgias, tudo sob a justificativa de sermos bruxos e podermos fazer o que quisermos sem culpa. De novo, eu concordo com sexo sem culpa. Mas se você está indo a um evento quase que exclusivamente para isso, hora de prestar atenção para onde sua energia está sendo direcionada. Não há nada de errado em fazer todas essas coisas e, além disso, um encontro pagão tem a vantagem das pessoas pensarem como você, o que facilita demais. A questão aqui é apenas a priorização das coisas.

Ok, somos bruxos, portanto somos livres para expressar nossa sexualidade da maneira que nos sentimos melhor e mais felizes. Isso quer dizer que todo mundo tem que sair para a pegação louca? Absolutamente não! E é aí que entra a minha segunda questão: algumas pessoas confundem o “ser bruxo” com “quero me pegar com todo mundo”, considerando que essas coisas estão unidas. Alguns chegam ao ponto de dizer que se você não quer beijar mais de uma pessoa em uma mesma noite é porque você ainda tem amarras no cristianismo (!). Vamos recapitular, na Wicca somos livres para expressarmos nossa sexualidade da maneira que nos sentimos melhor e mais felizes. Então se eu não quero sair beijando todo mundo e se eu não quero participar de uma orgia, eu tenho liberdade para fazer isso. Todos pensam: claro, obviamente. Mas essa é uma realidade que acontece com mais freqüência que imaginamos. Tentar influenciar a minha vontade dizendo que eu deixo de fazer algo que a pessoa quer porque não expresso meu sacerdócio corretamente é no mínimo antiético.

Por último, vamos pensar o que é ser bruxo e, mais especificamente, um sacerdote da Tradição Caminhos das Sombras. Somos aqueles que buscam o equilíbrio, o caminho do meio, os cinzentos, os sombrios. A terceira questão entra exatamente nesse ponto: Equilíbrio. Sair das amarras do cristianismo, onde a expressão sexual é reprimida, para entrar na Wicca e se entregar a todo tipo possível de excessos é o mesmo que trocar seis por meia dúzia. Isso quer dizer que você não pode fazer as coisas que você quer? Não, claro que pode. Mas a partir do momento que você começa a agir de um determinado modo apenas para mostrar a todos como você é livre e não se importa com as amarras da sociedade, você coloca outra máscara, apenas o oposto da que você usava quando estava no cristianismo.

Entendam que eu compreendo o fato do sexo estar intimamente entrelaçado na Wicca. E eu realizarei minhas funções como sacerdote dignamente quando for necessário. Sexo ritual não é o mesmo que sexo casual.

A palavra aqui, como todos já perceberam, é liberdade. Você é livre para fazer o que bem entender desde respeite o que o outro quer fazer também. É como aquele velho ditado: Não confunda liberdade com libertinagem. Não force as pessoas a seguirem a sua conduta, não se force a uma ação só para provar que é livre. Não desrespeite o outro e, principalmente, não se desrespeite.

Dimitrae Keetan


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