Texto de Owen Stelyus

“E, entre nós (os gênios), há virtuosos e há também os que não o são, porque seguimos diferentes caminhos.”

Na mitologia árabe, um gênio, ou djin, é um espírito capaz de assumir a forma humana ou de certos animais e exercer influências sobrenaturais sobre pessoas, para o mal ou para o bem. Estudos arqueológicos de toda a região do Oriente Médio e parte do nordeste da África, frequentemente rotulavam como “gênio” qualquer criatura sobrenatural. Eles possuem o poder de presidir o destino das pessoas e das cidades as quais têm domínio. Em suma os Djinns pertencem à mesma categoria dos Anjos, a chamada categoria dos Gênios.

No Alcorão “Jinn” significa apenas “um espírito” ou uma força invisível ou oculta. A palavra árabe djin deriva do verbo “Djanna” que significa, “ser coberto ou escondido”, e com o verbo na voz ativa, significa: “cobrir ou esconder”. Algumas pessoas dizem que Djin, portanto, significa as qualidades ou capacidades ocultas do ser humano. Outras pessoas alegam que significa seres da selva, ocultos nos montes. Segundo a crença islâmica, os gênios vivem na Terra em um mundo paralelo ao da humanidade, do qual podem ir e voltar à vontade sendo invisíveis aos olhos humanos sempre que desejam.

Em algumas histórias folclóricas, como “As Mil e Uma Noites”, os gênios foram personificados com formas fantásticas, detentores de enormes poderes, capazes de realizar os mais profundos desejos de quem os dominassem. Nesta narrativa já se convencionava que os gênios possuem todas as necessidades físicas dos humanos, podendo até mesmo serem mortos, mas, mesmo assim, eram dotados de poderes especiais e se libertavam de quaisquer restrições físicas. Apesar de seus poderes sobre-humanos os djins das histórias populares podiam ser presos em anéis, lâmpadas ou garrafas especiais. Neste caso, o feiticeiro poderia obrigar o gênio a realizar tarefas sobrenaturais ao seu comando, mantendo sempre acesa a esperança de um dia o libertar. Quando convencidos, podiam, por exemplo, ajudar os sábios e adivinhos a prever o futuro. Mas, segundo as lendas, o poder maior de um gênio é o de sussurrar nos ouvidos das pessoas pensamentos que influenciam seu comportamento.

Uma tradição de Mohammad narrada por Jabir bin ‘Abdullah diz que os gênios podem ainda roubar coisas de uma casa ou mesmo sumir com crianças e parentes. O profeta alertou para “cobrir os utensílios da cozinha, cobrir os potes de água, fechar as portas e manter as crianças por perto quando escurece, pois à noite existem djins que investem seu tempo em raptar e roubar as coisas”. De acordo com o Alcorão, os djinns já viviam na Terra milhares anos antes do surgimento do ser humano. Eles teriam sido criados pela divindade suprema dos árabes. Segundo conta o Alcorão, eles foram criados a partir do fogo (55 ª Surata, Versículo 14), assim como os humanos teriam sido feitos do barro e os anjos feitos de luz. Contudo, alguns estudiosos alegam que os gênios foram feitos de um “fogo sem fumaça”: referência comum ao vento escaldante do deserto da Arábia.

No Alcorão, os gênios são também mencionados na sura 72, que de fato possui o título Al-Jinn, ou “Os Gênios”. Outra sura (Al-Naas) menciona os gênios no último versículo. Os muçulmanos acreditam que os gênios possuem livre arbítrio, e que, portanto o Alcorão fora revelado para ambos os grupos. Assim, existiriam gênios muçulmanos, mas também gênios cristãos, hindus, pagãos ou mesmo céticos e ateus. Na literatura islâmica Shaytan é o nome dado a qualquer gênio descrente que se rebele contra o Deus do Alcorão.

No versículo 50 da 18ª Surata é dito: “E (lembra-te) de quando dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Prostraram-se todos, menos Iblis, que era um dos Djins, e que se rebelou contra a ordem do seu Senhor. Tomá-los-íeis, pois, juntamente com a sua prole, por protetores, em vez de Mim, apesar de serem vossos inimigos? Que péssima troca a dos iníquos!”

Iblis foi o nome de um proeminente djin, que ao terminada criação do ser humano, se recusou a se curvar perante Adão, como fora ordenado a todos os seres. Por isso foi expurgado, de forma semelhante à história de Lúcifer. No século XX, a crença nos gênios foi popularizada no ocidente por figuras como “Jeannie” e por desenhos de releituras infantis das lendas de Aladin e Sinbad. Entretanto, os djins ainda são uma parte integrante da civilização árabe e da cosmovisão islâmica e continuam sendo compreendidos com seriedade. Um ocidental costuma responsabilizar o diabo, os espíritos ou os extraterrestres por coisas que não pode explicar, já nas terras da Arábia, essas falas são direcionadas aos djins.

Podem existir quatro categorias de djins: Djins do Ar, da Água, da Terra e do Fogo, que segundo contam as lendas, são responsáveis por diferentes tipos de atuação de acordo com a energia à qual estão conectados. A presença do Djinn é marcada por uma sensação de calor e se você fez tudo corretamente e botou fé em seu chamado, o Djinn ouvirá seus desejos e anseios, podendo realizá-los. Mas tenha cuidado, pois é da natureza deles serem interesseiros. Eles não farão nada de graça, mas não pedirão sua alma em troca (risos), pois eles não trabalham com este tipo de pacto. Como djins são mestres dos sonhos e desejos, você poderá, durante um sono, fazer uma barganha.

Termino este texto com o mesmo alerta inicial. Como se lê em uma passagem do Alcorão, “E, entre nós (os gênios), há virtuosos e há também os que não o são, porque seguimos diferentes caminhos.” Por isso, há de ser extremamente cuidadoso no trato com estas criaturas, uma vez que pode-se encontrar com um djin que não está disposto a ajudar e você pode complicar-se ainda mais: “E, em verdade, algumas pessoas, dentre os humanos, invocaram a proteção de pessoas, dentre os gênios. Porém, estes só lhes aumentaram os desatinos”.

Blessed Be!

Owen Stelyus ✩

Compartilhar

Iniciado da Tradição Caminhos das Sombras

Deixe um comentário