Texto de Owen Stelyus
Todo mundo já ouviu falar da Fênix em algum momento. Ela está no hall da fama dos seres mágicos e aparece em desenhos, filmes, tatuagens e jogos. Pois bem, como bruxos, podemos nos beneficiar magicamente não somente da enorme egrégora que o nome Fênix angariou até hoje, mas podemos também entrar em contato com sua força ancestral para fins ritualísticos e de auto-conhecimento. Como já é bem sabido, conhecimento é poder; então, vamos começar por conhecer um pouco mais desse maravilhoso ser mágico para estimular a criatividade no planejamento do contato com ela. Neste texto trago algumas informações sobre seu mito e também uma dica de roda do ano com foco na mitologia da Fênix.
A Fênix é um pássaro lendário da mitologia grega, que morria, mas depois de algum tempo renascia das próprias cinzas. Antes de morrer, ela entrava em combustão, para depois renascer de um novo ovo. A Fênix possui grande força, capaz de transportar pesadas cargas durante seu voo, chegando ao ponto de carregar até mesmo elefantes. Segundo a mitologia, as lágrimas da Fênix possuem características curativas.
Na Antiguidade, a fênix era um ser venerado por vários povos, como os egípcios, principalmente os habitantes de Heliópolis, onde ela era interpretada como a reencarnação do deus Rá. A fênix também tem o poder de se transformar em uma ave de fogo muito parecida com uma águia. Pela sua morte diferente, tornou-se um símbolo de força, de imortalidade e do renascimento.
Acredita-se que a ave mitológica surgiu no Oriente, e depois foi adaptada pelos gregos. Até mesmo a Igreja Católica possui uma relação com a Fênix: os cristãos acreditavam que o pássaro era um dos símbolos da ressurreição de Cristo. Dizia-se na época que as cinzas da fênix eram tão poderosas, que podiam até ressuscitar os mortos.
O seu nome pode dever-se a um equívoco de Heródoto, historiador grego do século V AEC. Na sua descrição da ave, ele pode tê-la designado por Fênix (phoenix), a palmeira (phoinix em grego) sobre a qual a ave era nessa época representada. Revestida de penas vermelhas e douradas, as cores do Sol nascente, possuía um canto encantador, mas que se tornava triste quando a morte se aproximava. A impressão que a sua beleza e tristeza causavam em outros animais chegava a provocar a morte.
Segundo uma lenda, apenas uma Fênix podia viver de cada vez. Hesíodo, poeta grego do século VIII AEC, afirmou que esta ave vivia nove vezes o tempo de existência do corvo, que tem uma longa vida. Outros cálculos mencionaram até 97.200 anos. Em todo caso, quando ela sentia a morte aproximar-se, construía uma pira de ramos de árvore da canela, em cujas chamas morria queimada. Mas, das cinzas erguia-se então uma nova Fênix, que colocava honrosamente os restos da sua progenitora num ovo de mirra e voava com eles à cidade egípcia de Heliópolis, onde o depositava no altar solar.
Seguindo a ideia de que as cinzas da Fênix tinham poderes curativos, uma história afirma que o Imperador romano Heliogábalo (204–222) quis comer carne de Fênix, com o propósito de alcançar a imortalidade. Foi-lhe enviada a carne de uma certa ave da qual ele se alimentou. Coincidentemente, ele foi assassinado pouco tempo depois.
Alguns estudiosos afirmam que a lenda surgiu no Oriente e foi adaptada por sacerdotes de Heliópolis como uma alegoria da morte e renascimento do Sol. Por ser um mito, e exercendo com tal a sua função, a história da Fênix faz analogias a experiências humanas. A crença na ave que renasce das próprias cinzas existiu em vários povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses e em todos os casos alguns significados são mantidos: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca tem fim.
Para os gregos, a Fênix por vezes estava ligada ao deus Hermes e é representada em muitos templos antigos. Há um paralelo da Fênix com o Sol, que “morre” todos os dias no horizonte para então renascer no dia seguinte, tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.
Os egípcios a tinham por Benu e estava sempre relacionada à estrela Sothis, estrela de cinco pontas ou estrela flamejante, que é pintada ao seu lado. Na China antiga, a Fênix foi representada como uma ave maravilhosa e transformada em símbolo da felicidade, da virtude e da inteligência. Os romanos viam na ave uma metáfora para o caráter imortal e intocável do Império Romano e chegaram a estampá-la em algumas de suas moedas.
As Fênix podem propiciar enorme compreensão dos ciclos da vida e morte e com isso, esperança àquele que compreende que todo fim é um recomeço. Todos nós vivemos o mito da Fênix em diferentes momentos de nossas vidas. Todos nós já morremos em diferentes momentos e renascemos depois disso. Talvez, com um pouco mais de cicatrizes, mas que contam nossa história, afinal, qual guerreiro não possui cicatrizes. E assim, a Fênix também pode ser um simbolo associado ao arquétipo do guerreiro.
Sabe aquele momento em que você pensa: “Dessa vez eu não sobrevivo”? Pois é, talvez você não sobreviva. Mas, quem disse que você tem que sobreviver? Talvez você tenha mesmo que deixar algo morrer. O Deus morre todos os anos, porque seria diferente conosco? Você tem que se apegar ao seguinte: A Fênix sempre perece, mas ela retorna! E assim há de ser em cada uma de nossas mortes pessoais.
A Fênix se ateia fogo e são suas próprias cinzas que cobrem, aquecem e protegem sua nova auto-gestação. Todos nós sabemos disso e talvez seja preciso nos lembrarmos: nossas próprias cinzas nos protegerão, nossas próprias dores nos fortalecerão. Com isso, aprendemos que temos tudo o que é necessário em nós mesmos. Que saibamos vier nossos ciclos e confiar um pouco mais em nós mesmos. Que saibamos usufruir do vento morno dos voos nas alturas em um dia ensolarado, mas que também saibamos descer com honra à escuridão do submundo para então ressurgimos.
Como Wiccanianos, podemos planejar uma roda do ano que celebre o ciclo solar de acordo com o mito da Fênix. No seu altar, você pode construir um “ninho de Fênix” com ervas tais como mirra e canela, que fazem parte de seu mito.
No Yule, nascimento solar, coloque um ovo branco (oco, bem limpo e preenchido com ervas e pedidos para o novo ano) sobre esse ninho, representando a criança da promessa, a certeza no retorno solar. No Imbolc, lave esse ovo com leite, infusões e passe óleos essenciais No Ostara, você pode enfeitar o ovo da Fênix utilizando tintas de cores solares (amarelo, vermelho, dourado…), cristais, fitas, lantejoulas etc.
Nos próximos sabbaths, você pode enfeitar o ninho da fênix com diferentes feitiços e velas de diferentes cores de acordo com as temáticas e atividades propícias de cada estação. Por exemplo, no Beltane, coloque muitas velas no altar, enfeite o ovo com várias fitas, etc..
Finalmente, no Samhain, você queimará o ninho e cobrirá o ovo com as cinzas que restarem. No Yule vindouro, quebre o ovo e com as ervas do interior, faça um novo ninho, que receberá agora um novo ovo, com novas ervas e pedidos em seu interior! Em cada uma das celebrações, você pode convidar Deuses que têm relação com a Fênix, como Gullweig, que é uma Fênix.
Você pode utilizar essas ideias, aqui resumida na forma de “dicas” (para os propósitos deste texto), e construir sua própria roda do ano de maneira mais detalhada e profunda. Como todo mistério, a Fênix te trará lições e insights únicos e transformadores.
A baixo eu compartilho com vocês uma carga que eu puxei de uma meditação com a Fênix em 2014:
Eu estou em cada chama que dança. Eu aqueço o coração em momento de medo. Eu lhe trago afago e coragem. Eu ofereço a magia e o conforto da sabedoria ancestral. Eu voo entre os mundos. Eu alcanço as alturas do Sol, Mas como ele eu também viajo ao submundo e me faço completa. Eu sou a esperança na agonia e espera da morte. Eu amo a morte, pois sei que ela é necessária e me completa em cada ciclo. Mas, após isso, eu sou o primeiro cantar de pássaros da manhã. Estou no primeiro raiar do Sol. Sou o renascimento e o olhar próspero para o futuro. Eu sou a Fênix. Eu sou o conhecimento e a honra ancestral, sou a força mesmo na fraqueza, sou a chama da esperança e a certeza em um novo amanhã. Eu trago fé, esperança, renovo, sabedoria e força e convido a voar comigo todo aquele que é corajoso, para que encontre em si a força para renascer de seus próprios restos, pois meu voo é alto, profundo e amedrontador. Eu sou a Fênix de todos os tempos
Blessed Be!
Owen Stelyus ✩
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