A Imanência e a conexão com os Deuses

Um texto de Owen Stelyus

Durante meu crescimento na bruxaria, foi essencial aprender a me conectar aos Deuses. Estamos em uma sociedade majoritariamente cristã que crê em uma única divindade masculina e transcendental, não imanente. Isto é, seu Deus está fora da natureza, ele não coincide com ela. Esse pressuposto indica a existência de um mundo finito, pois seu Deus está fora dele: precisa estar para que seja transcendente. Como o sujeito dessa religião se vê à imagem e semelhança de seu Deus, também se deslocou da natureza, não se vê como parte dela.

 Na bruxaria, em especial no caminho que trilhei até agora, tive que aprender que os Deuses, o que inclui divindades femininas, estão e são a natureza que eu sou e faço parte. Também tive que aprender a me sentir parte da natureza: não é de hoje que, por posicionamento teórico e prático, o ser humano se deslocou de sua posição que o inclui à natureza. Ora, se somos partes integrantes da natureza e se a natureza também corresponde ao divino, nós também somos partes do divino, do sagrado, somos o sagrado. 

Tendo isso em mente, faz sentido pensar que estamos distantes dos Deuses? A dificuldade de nos sentirmos próximos aos Deuses pode estar associada, também, à  dificuldade dessa transição entre os paradigmas religiosos que citei: do transcendente ao imanente.

Além disso, um fator que fortalece essa dificuldade é crer que é necessário grandes e elaborados rituais para estarmos próximos aos Deuses. As egrégoras dos Deuses que cultuamos hoje dependem diretamente de nossas energias direcionadas a eles. Todavia, tomando como base a concepção de imanência, não faz sentido acharmos que estamos distantes dos Deuses porque acendemos somente 3 velas e ao invés de 13, porque não tivemos tempo de celebrar aquele ritual ou porque não recebemos nenhum sinal há duas semanas. Por isso, muitas vezes, as pessoas acabam realizando rituais mais para saciarem sua necessidade de “dever cumprido” consigo mesmo do que por verdadeira devoção. E, devoção, não depende da quantidade de castiçais, lâminas, cristais e palavras em latim que você usa.

Nessa linha de raciocínio, é importante que aprendamos a perceber, sentir e ouvir os Deuses a todo momento. Ao passo que vamos percebendo que somos parte da natureza e consequentemente dos Deuses, fica mais fácil sentir eles e estar consciente e inconscientemente com eles a todo momento. Mas, você não precisa estar vendo sinais e recebendo mensagens divinas a todo tempo. Apenas viva e os Deuses estarão vivendo por meio de você.

Imagem: Alexandra Dvornikova

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Iniciado da Tradição Caminhos das Sombras

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