Como você percebe os seres mágicos?

Um texto de Owen Stelyus

Este texto surgiu do contexto de uma pergunta que me fizeram sobre como eu percebia um certo tipo de seres mágicos da natureza.

Interajo “visualmente” com seres mágicos/míticos/místicos (da natureza) de três maneiras: percebendo-os com aparências totalmente fora do senso comum (como formatos humanoides misturados com elementos da natureza), como tradicionalmente são apresentadas nos mitos ou não os vejo em forma alguma, apenas sentindo sua energia. Mesmo assim, tudo isso é influenciado pelo meu arsenal de crenças culturais, sociais, religiosas e pessoais.

Busco me abrir para as energias da natureza buscando evitar as formas pelas quais elas geralmente são apresentadas nas mídias. Quando visito algum lugar natural para entrar em contato com seres da natureza, me coloco em um estado meditativo de observador e as imagens que me aparecem são as mais diversas e não necessariamente fadas com asas coloridas. Já vi, “com os olhos da mente”, fadas com o formato de galhos ou de diferentes combinações de elementos da natureza. 

Apesar de raro (já que minha crença pessoal não me impõe essa necessidade), já vi, com os olhos físicos, alguns seres mágicos (e até outras categorias de seres, como fantasmas). Eles tinham formas mais conhecidas.  Entendo que isso tem a ver com minha imersão em um mundo que interpreta tais criaturas de tal forma. Além disso, a grande egrégora que foi criada sobre tais seres fortalece que sejam vistos de certas formas pelas pessoas.

Há vezes que, quando entro em contato com algum ser mágico específico, utilizo consciente e propositalmente a forma que a cultura correspondente a concedeu: me aproveito de sua egrégora cultural e religiosa. Por exemplo, a Caipora, que originalmente se tratava de uma divindade, mas que foi reinterpretada como um espírito da natureza, um ser mágico. Em um feitiço para proteção de uma área natural, entrei em contato com ela e a percebi da mesma forma que os mitos a projetam. Já tive um contato super profundo com um Sátiro em um bosque nos EUA. Eu o percebia como nos mitos. No trato com gnomos, os percebi também de forma usual. Os exemplos seriam diversos.

Quando me disponho ao contato com seres mágicos/ da natureza, pode ocorrer de eu não os perceber de nenhuma forma visual. Eu apenas sinto sua energia ao redor ou até mesmo em mim,a depender da energia que pretendo contactar. Assim, se passa para o processo de comunicação, que, devido às minhas peculiaridades humanas de pode se dar via verbal ou imagética (durante a meditação ativa).

Tenho em mente que a necessidade de perceber as energias (da natureza, de seres mágicos, divinas, com formas visuais específicas, sejam as estereotipadas ou não) tem mais a ver com uma necessidade MINHA, humana, do que com a realidade existencial dos seres mágicos, da natureza ou divindades. Digo isso pois entendo-os como energias naturais que interpretamos de diferentes formas de acordo com nosso arsenal cultural. Gosto sempre de utilizar a analogia dos prismas. A luz branca passa por um prisma transparente e é projetada em uma parede, denunciando as cores do arco-íris. Se o prisma fosse azul, a luz projetada seria dessa cor também. Caso o prisma fosse esverdeado, a luz refratada também seria verde. Percebemos que, a luz branca incidente é sempre a mesma, mas o resultado final é diferente de acordo com o prisma. Ora, cada pessoa, cada cultura é como um prisma e processa a luz incidente, isto é, as energias da natureza, do cosmo, do universo, de maneiras diferentes. 

Nós criamos nomes, formas e mitos para entender as energias da natureza e os chamamos de Deuses, unicórnios, fênix, fadas, gnomos, dragões… Isso porque NÓS precisamos dessas imagens para interagir com o mundo. Eles, seres e Deuses, não são menos reais por isso. O que quero dizer é que, a forma como os interpretamos depende da maneira como nossa sociedade, nossas religiões, nossas mitologias nos ensinaram a percebê-los. É  uma questão de linguagem. Da mesma forma como há diferentes alfabetos e diferentes formas de comunicação: verbal, gestual ou imagética, por exemplo. E, a maneira que se escolhe para comunicar uma mensagem influencia diretamente na forma e, até mesmo, no conteúdo que a mensagem toma. Afinal, nunca ouvimos falar em “erros de tradução”? Muita coisa se perde/transforma da mensagem original quando a traduzimos de uma forma de comunicação para outra. A energia da prosperidade, da colheita e da fartura foi interpretada de diferentes formas em diferentes culturas, pelos mitos e nomes de diferentes Deuses, Deusas e seres, mas ainda continua representando uma mesma ideia/essência. Todavia, as peculiaridades locais moldam sua mitologia. A mesma coisa acontece a nível individual.

Considerando o que expus até aqui, é perfeitamente possível que diferentes pessoas estejam percebendo as mesmas essências energéticas em seus diferentes aspectos, com formas e aparências diferentes. Perceba, ainda, que a luz branca incidente (da analogia do prisma) só é processada pela refração, denunciando diferentes cores, devido ao prisma e também à multiplicidade de frequências de onda que compõem a luz branca. Nós somos os prismas, nós imprimimos sobre o mundo uma forma que nós enxergamos e optamos por percebê-lo, seja por influências históricas, sociais, religiosas etc.

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Iniciado da Tradição Caminhos das Sombras

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