A TCS

A Tradição Caminhos das Sombras é uma Tradição Hecatina. Uma Tradição Hecatina é uma tradição que se baseia nas múltiplas faces de Hécate. Creio que podemos resumir o significado disso nos tópicos abaixo.

1. Relação não hierárquica com o masculino. Todas as tradições diânicas possuem em comum uma relação de hierarquia entre o feminino e o masculino, dando supremacia ao primeiro em detrimento do segundo. Elas são uma reação natural ao patriarcado e suas grandes religiões, nas quais as relações de poder exigem submissão por parte das mulheres. Enquanto essa inversão de hierarquia é muito bonita e muito louvável, ela não ajuda em nada e não reflete o equilibro que vemos na natureza. Diana é uma Deusa que nunca teve um consorte, que nunca admitiu a presença de um consorte masculino. Hécate por sua vez teve inúmeros consortes, ela aceita e celebra a presença do masculino ao seu lado. O mesmo vale para Tiamat e Isis. Nosso caminho Hecatino busca refletir esse equilíbrio e a busca por um masculino curado, atuante, o masculino de Osíris e Apsu. Ainda haverá em nossa tradição lugar para as diânicas e para seus círculos e covens apenas de mulheres? Claro, mas elas também deverão buscar curar suas relações com o masculino, mesmo que optem por não cultuá-lo. E saberão que, apesar de vermos a Deusa como a criadora sagrada, seu filho e consorte não é menos importante do que ela.

2. Foco no desenvolvimento mágico. Hécate é a Senhora da Magia. Não pode haver uma tradição Hecatina que não se foque neste aspecto. Existe a possibilidade de um sacerdócio apenas devocional? Claro, mas desde que a pessoa saiba atuar magicamente se for necessário. Haverá lugar na TCS para aqueles que optarem por se concentrar em sua devoção, mas não haverá lugar para aqueles que não souberem fazer magia e não estiverem dispostos a aprender.

3. Foco na diversidade. Hécate é a Senhora dos Caminhos. Uma tradição Hecatina deve ter espaço para que cada pessoa possa trilhar seu próprio caminho. Sim, haverá um treinamento mínimo para dedicados e iniciados, mas sempre haverá espaço para o desenvolvimento pessoal, para a escolha pessoal. Os dedicados terão um grupo mais ou menos fixo de tarefas, mas são livres para executar essas tarefas da maneira que lhes for mais adequada. Os iniciados também possuem uma série de tarefas, mas dentro dela haverá uma série de treinamentos nos sistemas com os quais a pessoa tiver mais afinidade. Teremos magia de Tarot para os adeptos do Tarot, treinamento rúnico para os que sentirem o chamado das runas. Aqueles que quiserem se dedicar ao sacerdócio de uma divindade específica encontrarão espaço e treinamento neste sacerdócio. Aqueles que quiserem cultuar uma Deusa e um Deus diferente a cada roda também. Haverá espaço e treinamento para os que desejarem fazer magia com Dragões, haverá espaço e treinamento para os que quiserem fazer magia com fadas.

4. Foco no auto-conhecimento. Hécate é a Senhora das Máscaras. É preciso se conhecer para reconhecer suas máscaras e as dos outros. Não haverá espaço na TCS para aqueles que não estiverem dispostos a se engajar em um trabalho sério de auto-conhecimento. Como você pode saber se deseja servir esta ou aquela Deusa se você não se conhece o suficiente para saber o que quer de verdade? Como saber o que a Deusa espera de você se você não sabe quem você é? Como treinar outras pessoas e acompanhá-las pela Noite Escura da Alma se você não fez esse trajeto? Só podemos guiar alguém por caminhos que nós mesmos tenhamos percorrido. Fazer diferente seria uma farsa.

5. Foco no caminho do Meio. Hécate é a Senhora das Encruzilhadas. Ela está de pé nas interseções, nos mostrando todas as opções e nos oferecendo e garantindo a escolha. Vamos então usar dessa dádiva e dessa capacidade para escolher o equilíbrio, para buscar a harmonia. Não serviremos à Ordem, com sua disciplina e hierarquia rígidas. Não serviremos aos Caos que alimenta e engrandece os conflitos. Seremos como as sombras, que são parte da luz e da escuridão, vivendo de ambas, alimentando ambas e garantindo que o equilíbrio seja mantido. Em nossas vidas e ao nosso redor.

6. Foco no conhecimento. Hécate é a Senhora dos Portais. Nada abre mais portas na mente e na vida das pessoas do que o conhecimento. Nenhum conhecimento será proibido aos membros da TCS, aqueles que desejarem o treinamento em qualquer modalidade poderão solicitar e se nenhum dos elders souber nada sobre isso, buscaremos aprender juntos.

7. Foco na ética. Hécate é a Senhora da Tocha. Ela guia aqueles que perdem seu caminho ou que se perdem de si mesmos. A TCS será então um farol para mostrar o caminho aos que estão perdidos e um exemplo, que as próximas gerações seguirão. Se pudermos viver por Ma’at, viver de forma íntegra, honesta, respeitando nossos valores e nos mantendo fieis ao que acreditamos, estaremos pavimentando o caminho para os que nos seguirão. Se treinarmos nossos dedicados e iniciados com propriedade, com coerência, respeito e ética, teremos novas gerações de iniciadores capazes de levar nossos ensinamentos aos quatro cantos do mundo e aqueles por eles treinados permanecerão fieis às sementes que plantamos.

8. Foco na aceitação e na liberdade individual. Hécate é a Senhora da Chave. Abriremos nossas portas aos que nos procurarem, respeitando as diferenças entre as pessoas. Mas todos deverão estar cientes do que buscamos e do que a TCS valoriza. Não hesitaremos em trancar fora aqueles que não estiverem dispostos a respeitar nossas diretrizes e crenças. Valorizamos a liberdade, sim, mas existem limites que não devem ser cruzados se violarem aquilo em que a TCS se baseia.

9. Foco no serviço aos Deuses. Hécate é a Guardiã dos Mundos. Seremos também guardiões para os Deuses, guardaremos seus mistérios, seus ritos, seus templos. Seremos instrumentos para a Deusa e o Deus no mundo e no entre-mundos. E serviremos aos Deuses com o máximo de nossas capacidades, para quaisquer tarefas que eles tenham para nós.

Naelyan Wyvern

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Naelyan Wyvern é a fundadora e Alta Sacerdotisa da Tradição Caminhos das Sombras.