Mushroom world

O nascer dos cogumelos

Ran, em sua mais completa bondade, pega um de seus espelhos e o encara. Sua superfície refletora começa a desfocar, virando um pequeno, mas poderoso portal para enxergar a vida dos poucos seres humanos. Ela surpreende-se com a falta de alegria do seu povo. Alguns fazem uma caminhada de dois dias e duas noites para conseguir uma resposta do oráculo mais próximo. O que mais a surpreende, entretanto, é a falta da capacidade de olhar para si e enxergar teu templo, de perceber-se também como divino, de vislumbrar o mundo com seus sentidos primais, que muitos chamam de sobrenatural. Triste, surpresa e com uma vontade enorme de ajudá-los, percebe uma ideia surgindo ao longe: Construir algo em seus domínios para fazer com que qualquer um, possa alcançar os mundos além dos conhecidos, obter qualquer conhecimento, alcançar o âmago do teu ser, provar do gosto doce do orgasmo e alegrar-se com o mundo e seus mais peculiares detalhes.

Então, envia uma mensagem a todos os Deuses para ajudá-la nesta ambiciosa ideia e convoca suas sacerdotisas numa grande reunião, então ela fala:

— Grandes senhoras, detentoras da vida e da morte, nosso povo precisa de algo, que permita-os enxergar e perceber o mundo de uma outra maneira, de fazê-los perceber e não mais depender dos poucos que naturalmente possuem tal dom.

Uma das sacerdotisas fala ao fundo: — Conceda-os teus espelhos, para que possam enxergar tudo aquilo que desejarem ver.

E Ran responde:

— Meus espelhos serão concedidos aos meus, mas eles por si só, não permitem o livre acesso aqueles que não possuem nossa chama. Entretanto, que este dom possa crescer sob os meus domínios, para multiplicar-se e tonar-se acessível a todos que desejam buscar.

Outra, fala em seguida: “Desperte este dom, já no útero, assim todos aqueles que nascerem a partir de agora poderão se tornar completos”.

— Os antigos são para mim, também a promessa da vida. Todos aqueles que buscarem, devem ter sua lâmina afiada, independente da sua idade. O ferro antigo poderá ter suas marcas de ferrugem, mas todas elas levam consigo as oferendas de sangue que pertencem a mim.

Os deuses ao receberem sua mensagem, começam a pensar. E a primeira a manifestar-se é Gejfion.

Ran, vê ao longe uma luz prateada, a luz do luar tocar um imenso rochedo no fundo do oceano, deixando um frasco de cristal, contendo um líquido rosa. Ela aproxima-se e recebe, acolhendo-o.

— Majestosa irmã, não fique desapontada, dos nove mundos é possível ouvir teu lamento. Por isso trago-lhe um presente. Este líquido contem meus mistérios e meus dons, que o que você deseja possa ativar e alinhar os fluxos de energia do mundo e do corpo de cada ser humano, despertando-lhes seus dons e seu senso de conexão com a natureza e os rios de energia ao seu redor. Assim Fala Gejfion.

Aproximando-se ao coro de vozes em uníssono, navegantes carregam Nehalennia em seus navios, a Deusa entrega um outro líquido e fala: “Eu te concedo os fluídos do prazer, aqueles que dele alimentarem-se poderão sentir em carne e espírito o êxtase e as maravilhosas sensações de estar vivo e pleno”.

Nerthus, aproxima-se e fala: — Neste vidro te dou meus dons, somente aqueles que se aventurarem poderão compreender. E que o incompreensível seja olhado como um troféu, pois é nele que estão meus domínios. Prometo que a cada gota deste elixir, você viverá como se não houvesse amanhã, aproveitando cada segundo como o seu último, pois eles de fato podem ser. Lembre-se que haverá um preço, este elixir só surtirá efeito ao alimentar-se da matéria viva.

Rowana, traz consigo um pó mágico, que multiplica tudo que toca e ao formar um círculo ou padrões geométricos com o mesmo, é possível adentrar em mundos distantes, abrindo portais e permitindo que qualquer tipo de ser possa atravessá-lo, principalmente as fadas.

Prawana, entrega um punhado de areia, retirado do relógio do universo, através dela é possível parar ou avançar o tempo, a desdobrar-se no espaço. Assim como estabelecer conexões, ela permite que em um segundo, todos os seres possam comunicar-se e sentir com detalhes cada sensação um do outro.

Mardöll, entrega-lhe um perfume que muda de cor periodicamente, dando beleza e luz a tudo que toca. Transformando qualquer coisa em uma forma bela e única, amado por todos aqueles que possuem a sensibilidade em seus corações.

Gullweig, entrega-lhe um frasco mágico bem peculiar, contendo uma chama que nunca se apaga, ela transforma tudo que toca. Transformando vida em morte e morte em vida, num ciclo ininterrupto. Esta chama também será acendida no espírito daqueles que a tocarem, causando dor, mas também alegria e inspiração.

Passaram-se dias, semanas e meses sem uma notícia de Freyr. Já cansada de esperar, Ran convoca suas sacerdotisas para unirem as dádivas recebidas pelos deuses. Elas estudam e passam horas, unindo e costurando cada fragmento. Com muito trabalho, conseguem um resultado, pequenos filamentos que crescem onde quer que haja umidade e elas o nomeiam de “fungo”. Alimentam-se da própria matéria transformam o que já esta morto num jardim de beleza e encanto, mas os seres humanos, não conseguem perceber. Pois tais filamentos crescem apenas no interior da matéria, e aqueles poucos que conseguem mostrar-se externamente, parecem apenas como pinturas de pó, uma matéria amorfa, que logo se desfaz e não possuem muita atratividade, apesar de cores muitas vezes vivas e belas. Ninguém do seu povo ousa tocar nesse ser, ainda estranho. Aliás, muitos dos dons e graças prometidas pela Deusa ainda é inacessível.

Agradecida pelos presentes doados, mas triste por não alcançar o resultado que imaginou, senta e simplesmente pensa no que pode fazer para mudar. Quando de repente, ver uma luz dourada vindo em sua direção, uma luz que aquecia sua pele fria de um jeito a causar-lhe perfeito encanto e paixão. Ainda com os olhos semicerrados pelo excesso de luz, ela percebe Freyr em seu reino. O Deus em seu mais completo êxtase, deixou cair naquela matéria amorfa fabricado pelas völvas, algumas gotas de seu sêmen. Segundos depois, começam a surgir formas falôcentricas erguendo-se do chão. Percebendo isso, ele declama um poema rúnico dizendo: “Que o fluído do meu orgasmo possa conceder-lhes o livre acesso a todos os mundos habitados e não habitados, conhecidos e desconhecidos, e que todos aqueles que provam de mim, encontrem em si a alegria e o prazer, enquanto uma parte de mim estiver em teu corpo, você morrerá e renascerá incontáveis vezes se preciso for.”

Ran e as Völvas percebendo tal ação, agradecem ao Deus e alegram-se por agora terem a chave para tornar todos os dons acessíveis ao seu povo.

Mas Freyr não permanece em um único reino, e não deixou nenhum frasco contendo suas dádivas, como os outros Deuses fizeram. Por este motivo, as sacerdotisas espalham os fungos pelos nove mundos, a espera da passagem do Deus, e onde quer Freyr deixe cair um de seus fluídos, os cogumelos começam a brotar.

Os seres humanos ao perceberem os cogumelos, começam a regozijar-se com sua magia. alcançando mundos e conhecimentos perdidos, encontrando dentro de si os mistérios deixado pelos deuses.

Mas Ran alerta: “Eles não serão plantas, muito menos humanos. Possuirão seu próprio reino de magia e encanto. Um futuro incerto aqueles que o devorarem, pois podem curar, assim como matar. Então saibam bem como andar no caminho do veneno, deixe ser alimentado pelo espírito dos Deuses e prove a iniciação no reino mágico dos cogumelos“.

Escrito por: Aedan Gribnoy
Imagem destacada: Mushroom world by Nicolas Zuriaga

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Sacerdote da Tradição Caminhos das Sombras

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