Epagômenos 2025 – Dia 5

Dia 5 – Nebthet (04/08/2025)

No quinto e último dia, faz-se silêncio. Nem o som da brisa pode ser escutado. Nem os animais, nem os vegetais, nem os movimentos celulares. Tudo é contemplativo e sereno em amor. No quinto dia, nasce Nebthet, a gêmea de Aset, Rainha do Outromundo e Senhora da Casa.

Silêncio. A última aniversariante homenageada nos traz o silêncio. Plenitude, serenidade, sacrifício. Vida. Morte. Peregrinação. Consolação. Reabilitação. Amor Uno.

Nebt-Het, a mais misteriosa entre a Enéade de Heliópolis. o que há por trás da mística de suas asas? Em Seu dia se faz silêncio. Se reflete. Há a serenidade temperante. Nebt-Het transita nas sombras imateriais, atrás da grande ribalta cênica que compõe o quadro dos Nomes de Netjer. Ela é plena por isso, e honra seu papel. A gêmea de Aset por diversos momentos ocultada pela fama de Sua irmã se mantém resiliente. Ela é a resiliência em estado máximo de devir.

O que fazer quando nos vemos imersos nas sombras da dúvida? Devastados pelo caos de nossos próprios pensamentos? Há a flor. Para a flor nascer, a morte precisa existir. A semente germinada se alimenta de nutrientes de uma terra que carrega em si a vida e a morte, um processo cíclico ad infinitum e completo per se. Honrar Nebt-Het é honrar um cerne de força silenciosa, arrebatamento solene e sacrifício com ganhos muitas vezes invisíveis, por trás do véu.

Há força na reflexão serena. Essa força é Nebt-net. Não nos esqueçamos que Ela é a Senhora da Casa. A casa como templo, afeto, força, pilar. Não há o templo sem Sua presença. Não há o entendimento da Vida e da Morte sem Sua sabedoria quase muda. Debaixo de Suas plenas asas estão os aflitos, os proscritos, os marginalizados e ojerizados. Debaixo de Suas asas estão os mortos que nós, os vivos, pisamos dia após dia sem nos darmos conta do que há abaixo e acima de nós.

Graciosa em presença, Plena em magia, a Criança dos Olhos de Sua Mãe e de Seu Pai nasceu. Regozijemos! A celebração é serena tal como a brisa que espalha espectros e partes do delicado algodão. Honremos o que os olhos não veem e que possamos caminhar constantemente com nossa sombra. Há um grande túnel escuro no caminho, e ele pode ser solitário, claustrofóbico, seco e inóspito. Lá está a chama da iluminação que reside em nosso coração. Ela nos guia.

É Nebt-Het. Seu dia. Seu dia. Seu dia. Seu dia. Seu dia. Seu dia. Seu dia.

Vivamos a doce temperança do sacrifício. Suspiremos tal como a criança o faz nos primeiros segundos de vida. Suspiremos tal como faremos nos nossos últimos segundos de vida.
Honrada e Doce seja sempre, Grandiosa em Poder. Os rizomas se fixaram no centro, a flor desabrochou e aguarda pacientemente o momento de fenecimento.

Ah, que beleza há no florescer!
Ah que beleza há no fenecer!
Sê flor, Nebt-het. Transmute-nos em flor.

Dua Nebt-het! En Nebet-het, het nebet nofret wabet!

por Aureus Cornix

Sacerdote da Tradição Caminhos das Sombras

É sacerdote da Tradição Caminhos das Sombras, devoto do deus Wesir/Osiris.

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