A primeira visão verdadeira não é de luz.
É o momento em que se percebe há quanto tempo se está sonhando…
Yesod é o portão das brumas, onde a imagem nasce e onde a imagem engana. É o útero lunar da Árvore, o espelho de prata que guarda tudo o que o magista projeta e tudo o que o mundo lhe devolve, distorcido pelo anseio. Yesod é a fundação, mas não é pedra. É o limiar lunar onde o pensamento se torna imagem e a vontade assume forma. É o portão dos sonhos, o espelho através do qual o espírito desce à carne e por onde o magista ascende além de Malkuth. Em Yesod, aprende-se a ver o símbolo como arcano vivo e a sonhar com intenção, pois sonhar é o primeiro rito do vir-a-ser. Mas o que é mostrado nessa esfera é moldado tanto pelo desejo quanto pela verdade. Sua virtude está no poder de tecer pontes entre os mundos; sua maldição, na facilidade com que a ilusão veste o rosto da revelação. No entanto, sem Yesod, nenhum feitiço é lançado, nenhum espírito é invocado, nenhuma visão é recebida.
Dentro de Yesod, o iniciado não contempla o mundo, mas o fantasma do mundo, um véu tecido de memória, desejo, medo e forma. Aqui habitam os eidolons que imitam espíritos, as sombras que escarnecem do divino. Esta é a esfera da máscara.
E é aqui que Hekate reina.
Ela, coroada de serpentes. Ela, cujas mãos empunham chaves e tocha, é a soberana do limiar, não do ingresso, mas da travessia através do engano. Pois ela não é a destruidora da ilusão, mas sua senhora. Ela sustenta o espelho onde todos os encantos se revelam. Ela não destrói a máscara. Ensina-nos a usá-la com consciência e, mais ainda, a retirá-la quando necessário. Ensina-nos a ver além das máscaras dos outros, a olhar profundamente no fincamento de todas as coisas existentes, pois esse espaço liminar e espectral é domínio dela.
Yesod é a esfera do sonho, e toda feitiçaria começa no sonho. Mas o sonho fala em línguas, e nem toda visão conduz à verdade. O magista que bebe demais da taça astral, sem discernimento, encontra-se embriagado pelo sabor da própria loucura.
Este é o primeiro portal da desilusão.
É em Yesod, a esfera do sonho e da imagem, que a visão começa a cintilar com aparente vida. Ali, os deuses tomam forma, mas frequentemente tomam a forma que se deseja ver. Yesod oferece máscaras do divino, reflexos do sagrado, filtrados pelas águas do próprio anseio. E nisto reside tanto a revelação quanto o perigo.
Pois a ilusão nem sempre é uma mentira por natureza. Ela se torna ilusão quando não se percebe a verdade que há dentro dela, quando a faculdade interna do discernimento não foi afiada o suficiente para perfurar a beleza, a voz ou a sensação até alcançar a essência por trás da forma.
Nem todos os espíritos que se aproximam são falsos, nem todas as visões iludem. Mas aquele que se aproxima com fome desmedida, cuja alma ainda é regida pela fantasia interior, ouvirá apenas o que consola e verá apenas o que confirma. Na maioria das vezes, a realidade é esta: estão enfeitiçados pelo eco do próprio desejo, trajado na aparência da revelação.
Assim, Yesod não engana. Ele revela o que está dentro, revestido em glamour. Mas se o olho do praticante não souber discernir a verdade no que é mostrado, até mesmo os lampejos do real conduzirão à ilusão. E a máscara se tornará uma prisão.
O discernimento, então, não é apenas a capacidade de separar o verdadeiro do falso. É a arte mais profunda de perceber a realidade oculta dentro da forma.
Hekate caminha ao lado daqueles que ousam se despir, camada por camada, até que apenas a essência permaneça. Ela guia o magista pelo labirinto de seus próprios reflexos e, com um só olhar, desfaz a torre do autoengano.
Ver com clareza é uma lâmina que fere antes de libertar.
O trabalho em Yesod não é fugir da ilusão, mas chamá-la pelo nome. Traçar os contornos dos próprios fantasmas internos e seguir cada máscara até o rosto que a gerou. O magista deve aprender a distinguir o que vem da essência e o que vem da sombra de Yesod.
Yesod é um espelho. Mas a tocha de Hekate arde por trás dele.
E por sua luz, a essência é revelada.
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