O aspecto feminino da Divindade foi o primeiro a surgir. Os homens percebiam as mulheres sangrarem todos os meses e permanecerem vivas e, além disso, a concepção não estava ainda relacionada à união do homem e da mulher. Por isso, a Deusa era considerada a criadora e mantenedora da Vida.
A Deusa é a própria criação. Ela está dentro e fora de nós. Está no sussurro dos ventos, na tempestade e no chão que pisamos. A Deusa pode se comunicar conosco por meio de nossos pensamentos, gestos, atitudes e palavras, assim como as palavras e atitudes dos outros. Ela fala conosco até mesmo como o silêncio. A Deusa é imanente, está em tudo e em todos. Ela é o Amor, o Carinho, a Proteção e a Luz, mas também é a Morte, o Caos, a Raiva e as Sombras.
Aos olhos da Deusa, todos somos iguais. Por isso, devemos respeitar todos os seres vivos, pois eles são a própria Divindade.
Na Wicca, a Deusa é uma só, com diferentes faces. Enxergamos a Deusa em três faces: A Donzela, a Mãe e a Anciã.
A Donzela
A Donzela é representada pela cor branca e significa os inícios, tudo o que vai crescer, o apogeu da juventude, as sementes plantadas que começam a germinar, os animais no cio e seu acasalamento. Ela é a Virgem, não só aquela que é fisicamente virgem, mas a mulher que se basta, independente e auto-suficiente.
É a dona do amor livre ou puramente amor sexual, a nossa parte criativa e descomprometida, a inocência de nossa personalidade, plena alegria de viver. Ela é cheia de energia, pura e independente. Ela está descobrindo o mundo, testando seus limites. A Donzela se maravilha com a Existência que Ela acaba de descobrir. Nessa face, a Deusa muitas vezes é identificada como uma Caçadora, como a Ártemis grega e a Diana romana, entre outras.
A Donzela é a Primavera, a Lua Crescente, tudo o que começa e está crescendo. É a plena beleza e independência; Celebramos essa face da Deusa em Imbolc, Ostara e em Beltane, quando ela está no auge de sua beleza e feminilidade.
Perséfone, Ishtar, Afrodite, Atena, Héstia, Kuan-Yin e Amaterasu são outros exemplos de Deusas Donzelas de diversos panteões.
A Mãe
A Mãe foi a primeira face a ser cultuada pelos povos antigos. Como não tinha ainda a noção de concepção após o coito, eles associaram a vida a uma Grande Mãe. Ela é a criadora e mantenedora da Vida, é a protetora. A face Mãe da Deusa é como as nossas mães: protetora, carinhosa, que fornece nosso alimento e nos ensina, mas também pode ser a mãe que briga e ensina lições que talvez não gostaríamos de aprender.
Ela é representada pelo Verão e pela Lua Cheia; é a fertilidade da Terra. O sol, hoje visto como uma divindade Masculina ou o próprio Deus, antes do patriarcado sobrepujar o matriarcado, era um dos símbolos da Deusa Mãe, já que Ela é a Criadora de tudo e está contida em tudo. Encontramos inúmeras Deusas do Sol como Brigit, Grian, Sunna. O sol em seu ápice representa o pico do ciclo de fertilidade da Deusa que se torna grávida para no Inverno dar à luz Ela mesma, bela e plena.
Muitas das figuras encontradas por arqueólogos representam a Deusa como uma mulher grávida. Elas nos mostram mulheres com seios fartos e grandes vulvas, representando a fartura e fertilidade.
Apesar de estátuas da Deusa na forma de mulheres grávidas serem proeminentes, elas certamente não são vistas apenas desta maneira. Muitas delas foram encontradas com uma criança no colo, simbolizando o Filho da Deusa que irá crescer e se tornará o seu consorte, companheiro e provedor da tribo.
Como as mães terrenas, a Deusa pode se tornar fortemente protetora de sua criação e aquela que provê não só a proteção, mas tudo o que é necessário para o desenvolvimento de sua criação.
A cor da Mãe é a vermelha, do sangue. Mares, lagos, rios são símbolos dessa face, que simbolizam o útero da Mãe.
Hera, Gaia, Danu, Deméter, Isis, Brigit, Nut são exemplos de Deusas Mães de vários panteões.
A Anciã
A Terceira face da Deusa é a Anciã, a Conhecedora dos Mistérios. Muitas vezes ela é temida, e pode ser mal-interpretada, porque ela também é a Senhora da Morte. Isso traz muitos medos, mas quem conhece seus mistérios sabe que a Morte é necessária para que haja a Vida. Faz parte do ciclo natural. A Anciã traz a promessa da Donzela; O mesmo poder que leva à morte traz à vida.
Ela é a Rainha do Submundo, a Sombra e a sabedoria que vem com as experiências. A Anciã é a própria tríplice, pois ela já passou por Donzela e Mãe, e carrega memórias dessas passagens, sendo então aquela que pode nos guiar pelas nossas próprias dificuldades.
Ela também é a Parteira, nos guiando nas transições, que são também renascimentos. Ela é também Guerreira, pois onde há guerra há morte. É ela que nos impulsiona a vencer as dificuldades.
A Anciã também tem o aspecto de Deusa Negra, que é o aspecto sombrio da Deusa; a Morte, a Sombra e os medos de cada um.
Ela é a Lua Minguante, sua cor é o preto. Hécate, Ceridwen, Morrigan, Kali são exemplos de Deusas Anciãs.
A Negra
Muitos associam a Deusa Negra à Anciã, mas Ela pode aparecer também como Donzela. A Deusa Negra, também associada à Morte, é também aquela eu nos ensina a lidar com nossa Sombra e que nos coloca de encontro com nossos medos. É a face escura da Deusa, a Lua Negra.
A Lua é uma das representações da Deusa. Sob a Luz da Lua, nós não distinguimos rostos, ou cores… é assim que Ela nos vê, como semelhantes, e sagrados. Celebramos a Deusa com as faces da Lua, nos chamados Esbaths de Lua Cheia. A noite de lua cheia, ou o plenilúnio, é o auge do poder da Deusa. Durante o ano, soma-se o total de 13 Esbaths obrigatórios. A celebração das outras fases da Lua é opcional. Durante os Esbaths, reverencia-se a força vital criativa, geradora e sustentadora do universo, manifestada como a Grande Mãe.
Na noite de Lua Cheia, é realizada uma cerimônia de saudação à Deusa e a puxada da energia da Lua para instrumentos mágicos, jóias, e também para o próprio corpo. Também são realizados feitiços para qualquer propósito.