Quando os Deuses Queimam as Ilusões

“Eu sou tudo o que foi, é e será; e nenhum mortal jamais levantou o meu véu.”
— Sais, Inscrição do Véu de Ísis

A presença divina permeia todas as coisas, existindo tanto dentro de você quanto em tudo o que te cerca, uma expressão eterna da unidade.
Se uma divindade em particular ressoa profundamente com você, isso pode indicar um vínculo profundo, que, quando explorado, revela a essência da sua identidade espiritual além desta vida.
Ainda assim, é fácil cair no hábito de humanizar as divindades, e isso pode ser problemático.

Uma divindade não existe para servir ou agradar aos seres humanos.
Negar os aspectos sombrios e primordiais de um deus é não compreender sua natureza, um erro que pode gerar consequências inesperadas.
O amor por uma divindade não é comparável ao amor por um membro da família: é algo muito mais antigo, complexo e indomado.
Os deuses simplesmente são.
Eles encarnam tanto a criação quanto a destruição, a luz e a sombra, a misericórdia e a crueldade.
O que é melhor para o multiverso, aos olhos de uma divindade, não é necessariamente o que é melhor para a humanidade.
Para avançar por qualquer caminho espiritual ou mágico verdadeiro, é preciso abandonar expectativas moralistas e simplistas.
As divindades podem ser benevolentes, mas sua bondade não apaga a profundidade de seu poder, nem deve obscurecer o caos necessário que elas manejam.
Somente ao honrar e compreender todas as faces da existência é possível evoluir verdadeiramente.

Evitar a sombra, o primal, o indomado, os abismos do desconhecido, leva apenas à estagnação.
Uma sociedade que ridiculariza e demoniza aquilo que não consegue compreender cultiva a cegueira em seus buscadores.
Mas só um tolo zombaria do poder da Mãe Terra, quando a sobrevivência da humanidade sempre esteve na palma de Sua mão.

Para comungar com os deuses, é preciso transcender o medo diante da profundidade da natureza.
Você não pode correr com os lobos se teme a mordida.
Os deuses são criadores e destruidores, doadores e ceifadores.
Essa dança da dualidade, esse eixo em constante movimento entre criação e destruição, é o equilíbrio do qual a própria vida depende.
O caos precede a criação.
Uma divindade é como um diamante com infinitas facetas; ocultar sua verdadeira natureza mostrando apenas o que é agradável e palatável é limitar seu poder, e ao fazer isso, limitar também sua própria compreensão.

Esconder a essência bruta e indomada de um deus é como colocar um véu frágil sobre um abismo.
O véu é fino, pois a mentira que nos separa da verdade é tão gritante que chega a cegar.
É preciso aprender não apenas a olhar, mas a ver.
Presenciar os olhos flamejantes do divino é confrontar uma verdade implacável e selvagem, a verdade sobre si mesmo e sobre o mundo que habita.
É um olhar que desfaz todas as ilusões, deixando apenas o que é.

Mas para verdadeiramente conhecer os caminhos de um deus, é preciso encontrar a força para encarar de volta, não com medo, negação ou loucura, mas como um igual.
Pois, nesse instante, no reflexo das chamas deles, você verá a sua própria divindade olhando de volta para você.
E além do véu, encontrará a si mesmo.

Por Pythia Draco

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Pythia Draco é iniciada da Tradição Caminhos das Sombras, voltada para as práticas de bruxaria tradicional com foco na magia draconiana, magia rúnica e necromancia.

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