A Noite Escura da Alma





A Noite Escura da Alma

O Período de Dedicação de um praticante da Wicca é muitas vezes chamado de a Noite Escura da Alma. Você sabe por quê?

O Período de Dedicação possui dois aspectos que justificam esse nome: é um período de muitos testes e desafios na vida do futuro Bruxo ou Bruxa e é um período de rompimentos com formas de pensar e de viver que não cabem na vida de uma pagão ou Bruxo.

A Deusa costuma nos apresentar inúmeros desafios nesse período. Pode ser a família que não aceita nossas práticas, a dificuldade de encontrar livros e materiais de estudo, a eterna busca do iniciante pelo coven ideal, etc. Esses desafios também podem surgir em áreas não relacionadas á Wicca. Por exemplo, de repente algumas pessoas que você julgava amigas desaparecem da sua vida ou aquele grupo com o qual você adorava se encontrar passa a não fazer mais sentido. Relacionamentos terminam sem motivo nenhum, empregos são perdidos. Costumamos dizer que a Deusa toma nas mãos a sua vida como se fosse uma caixa de bombons e balança, para misturar um pouco as coisas. E por que Ela faz isso? Porque a vida como sarcedote ou sarcedotisa não é para qualquer pessoa e é exatamente isso que significa ser Bruxa: é ser uma sarcedotisa da Deusa. E Ela costuma escolher seus sarcedotes e sarcedotisas com muito cuidado.

Os rompimentos são ainda mais difíceis de enfrentar. Somos educados numa sociedade patriarcal, machista e preconceituosa, que tem pouco ou nenhum respeito pela natureza e pelo que é diferente. E viver como pagão não é assim. A mudança do pensamento e da atitude é um processo lento, mas brutal e profundamente transformador.

O primeiro rompimento é o religioso. Se você foi criado numa religião cristã, sabe do que eu estou falando. Não é fácil romper com conceitos como pecado e a existência do inferno, assim como não é fácil desvincular a idéia de deus do Deus dos cristãos e desvincular o conceito de diabo do nosso Deus de Chifres. Conheço um wiccano, por exemplo, que não pode ter uma imagem do Deus em seu altar porque a esposa não consegue deixar de ver nessa imagem o diabo cristão.

Acima de tudo, não é fácil perder o hábito de culpar as outras pessoas pelo rumo que a nossa vida toma. Saber que você faz suas próprias escolhas e tem que arcar com a responsabilidade por elas é muito difícil. Seria mais fácil poder colocar a culpa no diabo, não é mesmo?

Depois do rompimento religioso vem o rompimento com determinados comportamentos que são socialmente aceitos, mas que não fazem parte da vida de um pagão. São coisas simples, mas que fazem um enorme diferença na nossa vida. Viver uma religião que prega a sacralidade da Mãe Terra nos leva a questionar atitudes como a da vizinha que usa a mangueira e gasta litros e litros de água – um recurso que fica cada vez mais escasso a cada dia que passa – para lavar a calçada na frente da casa dela. Ou aquele cara que passa de carro e joga o toco de cigarro ou uma latinha de refrigerante pela janela.

E então você descobre que a sua palavra é um bem mágico muito precioso que não pode ser desvalorizado pelo hábito de contar aquelas pequenas mentiras sociais que contamos todo santo dia. “Me liga”, diz alguém, “Eu ligo”, você responde, mesmo que não tenha a menor intenção de ligar. Você finge que acredita. A questão é que, no momento em que começa a trabalhar e a viver magicamente, você percebe que as suas palavras têm poder e começa a prestar mais atenção nelas, começa a tomar mais cuidado com os compromissos que assume, poque assumir compromissos e não cumpli-los é o mesmo que dizer que sua palavra não vale nada.

E, se sua palavra nada vale, como você espera que os deuses estejam dispostos a ajudá-lo quando você a empenha?

Posteriormente vem o rompimento emocional, quando você descobre que ninguém vai chegar e lhe oferecer o amor numa bandeja, poi o único lugar onde você pode encontrar verdadeiramente o amor é dentro do seu coração.

Precisamos nos lembrar também de que viver magicamente pressupõe uma virada de 180 graus na forma de encarar o mundo, afinal somos criados acreditando que a magia não existe. Se você me perguntar se eu acredito que a magia funciona, vou responder que não. Eu não acredito na magia, eu SEI que ela funciona. Acreditar em alguma coisa traz implícito um conceito de dúvida, saber ou não. Ou como diz um autor de livros sobre a Wicca, “Você não acredita em cadeiras, você sabe que elas estão lá”.

E temos também os conceitos da Wicca, os estudos propriamente ditos. Se você se dedica a uma tradição, precisa aprender muito sobre ela, pois terá uma série de tarefas a cumprir. Se faz parte de um coven ou de círculo, então mais ainda. Os dedicados do meu círculo que o digam!

Tudo isso torna o Período de Dedicação um dos mais difíceis da vida de um Wiccano, mas é profundamente recompensador superá-lo e chegar aos portões da Iniciação. Assim como é profundamente recompensador ver nos olhos dos que se iniciam o toque da Deusa.

Se você está vivendo a Noite Escura da Alma, saiba que não está sozinho. Mesmo na mais profunda escuridão, a presença Dela pode ser facilmente sentida. Nas palavras de Dion Fortune:

“Eu sou aquela que
Era antes
De a Vida ser
Gerada.
Sou Ea, Binah,
Géia, Ísis Desvelada.
Sou Mara, o mar
Eterno, sem
Fronteiras, sem fim.
Todas as coisas
Que vivem e
Morrem respondem
A mim.”

– Naelyan wyvern, Sarcedotisa do Coven Labirinto do dragão


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Naelyan Wyvern é a fundadora e Alta Sacerdotisa da Tradição Caminhos das Sombras.