A Vassoura na Bruxaria: Uma Exploração Histórica e Cultural

Três sacerdotes de túnica preta cobrindo o rosto, numa floresta escura, cada um segurando uma vassoura, feita de partes das árvores;

Saiba mais sobre o papel da vassoura na bruxaria: sua história, crenças, utilizações e aprenda um feitiço para banir as más energias e atrair a prosperidade financeira.

A vassoura é um utensílio doméstico comum utilizado para limpeza, e que ganhou uma notoriedade distinta dentro do contexto da bruxaria e da magia ao longo da história, indo desde a sua associação simbólica com a figura da bruxa montando uma vassoura voadora até suas raízes históricas nas práticas mágicas e rituais. No imaginário popular, a vassoura desempenhou um papel intrigante: quem nunca se deparou com a imagem de uma bruxa voando numa vassoura, não é mesmo?

A associação entre a vassoura e a bruxaria remonta a várias culturas e períodos históricos. Uma das origens possíveis dessa ligação pode ser encontrada nas práticas rituais de diversas sociedades antigas. A ligação mais famosa é a imagem da bruxa voando em uma vassoura, que se tornou um ícone cultural amplamente reconhecido. Essa representação popular tem raízes em lendas e folclore que associavam as bruxas a viagens noturnas através dos céus.

Primeiras referências históricas

A primeira imagem de uma bruxa voando de vassoura data de 1451. Duas ilustrações acompanharam o manuscrito do poeta francês Martin Le Franc intitulado: “Le Champion des Dames (ou O Defensor das Senhoras)”– um desenho mostra uma mulher em uma vassoura, e o outro mostra uma mulher em um bastão branco liso.

A primeira imagem de uma bruxa voando de vassoura data de 1451. Duas ilustrações acompanharam o manuscrito do poeta francês Martin Le Franc intitulado: “Le Champion des Dames (ou O Defensor das Senhoras)”– um desenho mostra uma mulher em uma vassoura, e o outro mostra uma mulher em um bastão branco liso.Witches illustrated in Martin Le Franc’s ‘Le Champion des Dames’ (1451)
(via Bibliothèque nationale de France (BNF)/Wikimedia)

Um teólogo do século XV, Jordanes de Bergamo, escreveu que, com ajuda de unguentos, as bruxas “ungem um cajado” e “ungem-se debaixo dos braços e em outros lugares peludos”, numa ideia de que o gesto de voar em uma vassoura representava uma maneira para as bruxas superarem tanto suas limitações físicas quanto espirituais terrenas. Acreditava-se que essas ervas poderiam provocar um estado de transe, possibilitando que a bruxa “voasse” pelo reino espiritual e estabelecesse comunicação com o divino.

Naqueles tempos, as substâncias alucinógenas disponíveis, como o fungo ergot, não eram simplesmente ingeridas, e eram extremamente nocivas. Ao invés disso, elas podiam ser aplicadas nas mucosas, como na área genital, ou até mesmo em “outras regiões com pelos”, como Bergamo delicadamente sugeriu. Um exemplo que ilustra esse uso é mencionado por Matt Soniak, ao citar Antoine Rose, que, em 1477, durante seu julgamento por bruxaria na França, admitiu ter recebido do Diabo poções voadoras. Rose relatou que “untava a pomada em um bastão, posicionava entre as pernas e dizia ‘Vai, em nome do Diabo, vai!'”.

Feitiçaria e heresia na Idade Média

No ano de 1324, ocorreu um evento marcante envolvendo Lady Alice Kyteler, uma viúva irlandesa, que resultou na sua prisão sob acusações de feitiçaria e heresia. A controvérsia em torno de Kyteler teve início após uma busca minuciosa realizada em sua residência por investigadores. Durante essa busca, descobriram um item com pomada que, supostamente, foi utilizado para untar um cabo de vassoura. Esse achado desencadeou uma série de acusações e desconfianças direcionadas a Lady Alice Kyteler.

No auge do pânico das bruxas durante a Idade Média, as autoridades apreendiam diversas cervejas, unguentos e pomadas de indivíduos acusados de bruxaria e feitiçaria. Nos primeiros anos do século 16, o médico Andres Laguna descreveu uma dessas substâncias encontrada na residência de uma bruxa acusada. Ele a chamou de “um pote repleto de uma pomada verde em particular… elaborada com ervas sedativas como cicuta, erva-moura, meimendro e mandrágora”.

As vassouras das bruxas nos dias atuais

Qual é o papel das vassouras na bruxaria hoje em dia? Embora voar de fato não seja uma aplicação real, há diversas maneiras significativas pelas quais as vassouras podem ser incorporadas às práticas mágicas.

Uma aplicação comum envolve a criação de um espaço sagrado. Ao varrer a área, é possível eliminar fisicamente e energeticamente qualquer energia negativa ou resíduos que possam estar presentes no ambiente. Essa ação contribui para estabelecer um ambiente limpo e energeticamente puro, favorecendo o trabalho mágico.

Este instrumento também tem um papel nos feitiços e rituais que lidam com proteção, purificação e banimento. Por exemplo, pode-se integrar uma vassoura em um ritual que busca afastar energias ou entidades negativas de um espaço doméstico ou local de trabalho, como se você estivesse varrendo para longe.

Elas também carregam consigo a representação de poder e autoridade pessoal. Ao segurar uma vassoura durante um ritual ou feitiço, a bruxa consegue canalizar a energia da ferramenta, consolidando sua própria autoridade mágica. De modo geral elas constituem ferramentas versáteis e importantes na prática da bruxaria.

Além do que já foi dito, a vassoura tem o papel de simbolizar fertilidade, representando o conceito de polaridade. A polaridade se refere ao equilíbrio entre forças opostas, como luz e escuridão, masculino e feminino, positivo e negativo, yin e yang. A vassoura é vista como símbolo desse equilíbrio, incorporando elementos tanto masculinos quanto femininos. O cabo de madeira representa o masculino, enquanto as cerdas representam o feminino. Ao trabalhar com a vassoura, os praticantes podem aprender a harmonizar essas forças contrastantes dentro de si e em suas vidas.

Utilizações na bruxaria contemporânea

Duas bruxas de túnica preta cobrindo o rosto, cada uma com uma vassoura de palha laranja na mão e ao fundo uma floresta seca

Gerado por inteligência artificial – Aedan Gribnoy

Além dessas interpretações simbólicas, o cabo da vassoura também encontra aplicações práticas. Alguns praticantes as utilizam para criar um espaço sagrado, girando-as no sentido horário para purificar a energia negativa. Outros as usam para lançar feitiços ou desenhar símbolos no ar durante rituais.

Para cura, uma boa ideia é confeccionar uma vassoura com ervas relacionadas ao seu objetivo, consagrá-la e usar para varrer para longe a doença daquela pessoa ou de você, varrendo o corpo da pessoa e entoando encantamentos.

A vassoura representa a capacidade das bruxas de transcenderem os limites entre o mundo material e o espiritual, permitindo-lhes viajar entre diferentes planos de existência e guiar pessoas até eles também.

Algumas crenças relacionadas às vassouras

Existe um feitiço simples que envolve encantar uma vassoura para mandar embora um convidado indesejado. Ele pode ser feito tecendo um encantamento enquanto coloca-se a vassoura atrás da porta. Algumas pessoas também salpicam sal grosso nas cerdas. Mas, claro, você pode agir sem usar magia e simplesmente convidar com educação a pessoa para se retirar.

Há uma outra crença popular que afirma que não se deve varrer a casa à noite, pois varrer no escuro pode trazer azar. Algumas das consequências deste ato seriam problemas sociais, como brigar com a família, amigos ou até mesmo com estranhos. Além disso, acredita-se que varrer durante a noite seja um convite à tristeza e que traga consigo graves dificuldades financeiras.

Pior mesmo do que varrer à noite, segundo essas superstições, é varrer a casa no dia do réveillon. Essa crença afirma que a má sorte, conflitos, problemas financeiros e tristeza cairão sobre você durante todo o ano caso você varra no dia de Ano Novo. Então, quando você estiver de ressaca e pensando em varrer tudo depois das festividades de Ano Novo, volte para a cama, descanse um pouco e varra no dia 2 de janeiro.

Uma poderosa ferramenta de banimento

Acredita-se também que dá azar levar uma vassoura velha para uma casa nova –crença esta que também é defendida pelos adeptos do Feng Shui. Isso ocorre porque a vassoura velha carrega toda a sujeira, ou seja, toda a negatividade da antiga casa. Então, naturalmente, trazer sua vassoura velha para sua nova casa significaria negar a si mesmo a chance de um começo limpo no novo local.

Em algumas tradições de cultura popular do Brasil, a vassoura feita de piaçava é vista como uma ferramenta de proteção espiritual. Ela pode ser usada para limpeza ritualística e para afastar energias negativas.

A tradição de saltar sobre uma vassoura é muitas vezes associada a rituais para atrair sorte e boa fortuna. Essa crença pode ter origem em práticas ancestrais, e pode ser encontrada em algumas celebrações populares. A ideia é que, quando você pular sobre a vassoura, estará banindo de você toda má sorte e energias indesejadas.

Se você varrer os pés de alguém, é dito que esta pessoa não se casará. Mas, caso ela se case, será com alguém que estará prestes a morrer.
Feitiço para prosperidade e harmonia ao varrer sua casa ou negócio
Agora que você aprendeu tudo sobre este instrumento mágico tão primoroso, nada melhor do que fazer magia enquanto estiver varrendo sua casa ou o seu negócio. Confira abaixo uma sugestão de encantamento:

Limpo o espaço, o mal não há de ficar,
Deixo a porta aberta para o bem adentrar,
Varrendo e transformando, renovo com magia,
Trazendo prosperidade financeira para todos os meus dias.
Que a paz preencha onde a vassoura passar,
E que a sorte e o dinheiro venha me encontrar,
Neste encantamento a magia se faz,
mandando embora o que não me satisfaz.

Referências

Hutton, R. (1999). The Triumph of the Moon: A History of Modern Pagan Witchcraft. Oxford University Press.
Purkiss, D. (2013). The Witch in History: Early Modern and Twentieth-Century

Sacerdote da Tradição Caminhos das Sombras

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