Esse texto foi escrito por um bruxo que conheci a alguns anos numa lista pública de de wicca. Resolvi colocá-lo aqui porque outro dia uma rapazinho disse que na terra dele esse negócio de ter chifres faz o cabra ser menos macho… bem aí está: quero ver ele dizer isso agora 🙂
Sendo evangélico, seu filho provavelmente usa a versão bíblica de João Ferreira de Almeida, certo? E a que comumente todos os evangélicos, protestantes e pentecostais usam. Nela, obviamente, muita coisa foi “alterada” na tradução para o português por questões de preconceito.
Na Vulgata (a versão em latim que serviu de base para essa tradução de João Ferreira e muitas outras), em Exodo, capítulo 24, versículos 29 a 35, narra a surpresa dos judeus quando Moisés, descendo do Monte Sinai com as tábuas da lei nas mãos, tinha “chifres de luz”. A versão de João Ferreira traduz por “face luminosa”. No entanto, o termo original é QARAN que literalmente significa CORNOS ou CHIFRES (quaran é o plural de queren = corno, chifre).
Portanto, na versão evangélica de João Ferreira temos: “E aconteceu que, descendo Moisés do Monte Sinai (e Moisés trazia as duas tabuas do testemunho em sua mão, quando desceu do monte), Moisés não sabia que A PELE DE SEU ROSTO RESPLANDECIA, depois que falara com ele…”
Na versão original da Vulgata, lemos: “E aconteceu que quando Moisés desceu da montanha do Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas do testemunho, sim, quando desceu da montanha, não sabia que O SEU
ROSTO TINHA CHIFRES RESPLANDECENTES, porque havia falado com ele…”
É interessante notar que, segundo a tradição, Moisés recebeu, além dos famosos “Dez Mandamentos” (as Tábuas do Testemunho), diversas orientações sobre a construção de uma espécie de templo móvel – que eles chamava de A Tenda. Duas das mobílias desse templo eram o Altar dos Holocaustos e o Altar dos Perfumes.
A orientação sobre o Altar dos Holocaustos aparece em Exodo, capítulo 27, versículos de 1 a 8. Diz o seguinte: “Farás o altar de madeira de acácia; com cinco côvados de comprimento e cinco côvados de largura; e a sua altura será de três côvados. Dos quatro lados farás levantar CHIFRES, que formarão uma só peça com o altar, e o cobrirás de cobre…”. João Ferreira, novamente muda a tradução de chifres, dessa vez para PONTAS.
A construção do Altar dos Perfumes aparece em Êxodo, capítulo 30, versículos de 1 a 10, e diz o seguinte: “Farás também um altar para queimares nele o incenso, de madeira de acácia o farás. Terá um côvado de comprimento e um de largura, será quadrado, e terá a altura de dois côvados e meio; os CHIFRES formarão uma só peça com ele. Cobrirás de ouro puro a sua parte superior, as paredes ao redor e os CHIFRES…”. João Ferreira usa mais uma vez o termo PONTA para traduzir os chifres.
Em ambos temos, pois, QUATRO CHIFRES nas QUATRO PONTAS de um altar QUADRADO!
Há, também, a orientação sobre a Arca da Aliança, em Êxodo, capítulo 25, versículos de 10 a 22. A descrição é a seguinte: “Farás uma arca de madeira de acácia com dois côvados e meio de comprimento, um côvado e meio de largura e um côvado e meio de altura. Tu a cobrirás de ouro por dentro e por fora (…) Farás dois QUERUBINS de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório (a tampa da Arca)…”
Ora, querubins – hoje classificados como anjos – eram, na verdade, gênios semitas, correspondentes aos Karibu babilônicos: touros alados com cabeça humana (e, obviamente, os CHIFRES de touros, eheheh). Outro textos bíblicos faram que Iahweh (Javé) “se assenta sobre os querubins” (1Samuel 4, 4; 2 Samuel 6, 2;
2 Reis 19, 15 ; Salmo 80, 2; Salmo 99, 1, etc); ou que “cavalga os querubins” (2 Samuel 22, 11 ; Salmo 18, 11, etc), ou que “os querubins puxam o carro de Iahweh” (Ezequiel, capítulos 1 e 10).
Esses querubins deveriam ser bordados também nas cortinas da Tenda (de acordo com Êxodo, capítulo 26, versículo 1) e no Véu que esconde a Arca (Êxodo, capítulo 26, versículo 31).
Além disso tudo, a Tenda ainda teria cortinas feitas de PELE DE CABRA (Êxodo, capítulo 26, versículo 7) e teto de PELE DE CARNEIRO, tingida de vermelho (Êxodo, capítulo 26, versículo 14)… e dois animais sabidamente com chifres, certo?
E tem mais: é muitíssimo interessante saber que esses chifres (dos altares dos holocaustos e dos perfumes) tinham um poder todo especial. O sangue do sacrifício tinha que ser derramado exatamente sobre os chifres (conforme Êxodo, capítulo 19, versículo 12 e capítulo 30, versículo 10). E se alguém fosse considerado criminoso, passível de pena de morte, caso conseguisse escapar e se agarrar a um desses chifres, não poderia ser condenado: o poder os chifres o absolvia (conforme 1 Reis, capítulo 1, versículo 50 e capítulo 2, versículo 28).
Esse “PODER DO CHIFRE” aparece em outras partes do Antigo Testamento, como por exemplo:
– Salmo 18, versículo 3: “Iahweh é minha rocha e minha fortaleza, quem me liberta é o meu Deus. Nele me abrigo, meu rochedo, meu escudo e MEU CHIFRE SALVADOR, minha torre forte e meu refúgio” (lembrando, obviamente, o poder dos chifres do Altar de salvar o criminoso, servindo-lhe de refúgio).
– Salmo 75, versículo 5: “Eu disse aos arrogantes: Não sejais arrogantes! E aos ímpios: Não levanteis os CHIFRES!”
– Salmo 92, versículo 10-11: “Eis que teus inimigos parecem, e os malfeitores todos se dispersam. Tu me dás o vigor de um TOURO e espalhas óleo novo sobre mim.”
– Deuteronômio, capítulo 33, versículo 17: “Ele (José, o filho mais novo de Jacó) é o seu TOURO primogênito, a glória lhe pertence. Seus CHIFRES são chifres de búfalo: com eles investe contra os povos das extremidades da terra de uma só vez.”
– 1º Reis, capítulo 22, versículo 11: “Sedecias, filho de Canaana, fez para si uns CHIFRES de ferro e disse: Assim fala Iahweh: com isso ferirás os arameus até exterminá-los.”
– Zacarias, capítulo 2, versículo 1 a 4: “Levantei (o profeta Zacarias) os olhos e vi: e eis quatro CHIFRES. Eu disse ao anjo que falava comigo: ‘Que são eles?’ E ele me disse: ‘Estes são os CHIFRES que dispersaram Judá (Israel) e Jerusalém.’ Depois Iahweh fez-me ver quatro ferreiros, e eu disse: ‘O que é que eles vêm fazer?’ Ele me disse: ‘Estes são os CHIFRES que dispersaram Judá, de tal modo que ninguém podia levantar a cabeça, eles vieram para amedrontá-los, para abater os CHIFRES das nações, que levantaram os CHIFRES contra o pais
de Judá, para dispersá-lo.”
Por fim, o poder desses chifres começou a ganhar um carater messiânico, ou seja, associado ao poder do Enviado, do Messias, como no Salmo 132, versículo 17: “Ali farei brotar um CHIFRE de Davi, e prepararei uma lâmpada ao meu Messias…”
Em muitos desses casos, a tradução de João Ferreira substituiu a palavra CHIFRE por outra qualquer – tais como fronte, cabeça, testa, olhar, poder, força, etc.
Se formos para o extremo oposto da Bíblia – o Apocalipse -, esses mesmos chifres/poder aparecem sobre a cabeça do Messias, como no capítulo 5, versículo 6 em diante: “Com efeito, entre o trono com os quatro Seres Vivos e os Anciãos, vi um CORDEIRO de pé, como que imodado. Tinha SETE CHIFRES e sete olhos…” (Mas, mesmo aqui a tradução de João Ferreira substitui “chifres” por “pontas”).
Como vê, o que não falta na Bíblia é a ligação dos CHIFRES ao PODER DE DEUS. E olha que eu só citei as passagens principais, eheheh.
Bênçãos de Dannu.
HERNE, the Hunter