A Deusa na Roda do Ano

Quando falamos sobre a Roda do Ano, uma das coisas que deixa as pessoas confusas é: mas a Deusa não morre? Por que só o Deus morre?

E a nossa resposta sempre é: a Deusa se transforma para a face que o Deus precisa no momento.

Não sei se para todo mundo era assim, mas na minha cabeça, essa transformação era meio instantânea: o Deus nasceu, pluft, a Deusa é Mãe agora.

O processo de me tornar mãe me fez entender que isso é muito, mas MUITO mais profundo.

O trabalho de parto é um rito de passagem. Cada contração acumula energia até chegar ao ápice, como as pulsações que precisam ser cada vez mais fortes para acontecer o Big Bang. E cada onda vai transformando a mulher em Mãe – cada contração que ocorre para trazer o Deus para a vida também vai transformando a Deusa.

Então, esse processo não é nem um pouco simples, e é, de verdade, um renascimento. Creio que toda mulher que se tornou mãe consegue entender com mais profundidade como a maternidade transforma. No final das contas, essa transformação é, sim, uma morte – a morte da Deusa Donzela para o renascimento dEla como Mãe, pronta para cuidar do seu filho.

Esse processo é muito intenso, e não é à toa que o Deus nasce na noite mais longa do ano. Ela é uma noite longa porque a Deusa está em trabalho de parto. Ela sente as dores de trazer o Deus ao mundo, esperando-o com muito Amor, mas também deixando para trás aquela que Ela era antes do nascimento dela.

E afinal, não é no nascimento do Sol que as coisas ficam fáceis – se lembrarmos bem do ciclo como é nos locais em que as estações são bem definidas, é DEPOIS do solstício de inverno que o frio realmente começa a apertar – mais uma vez, o processo da Deusa: o pós-parto.

O puerpério é, de certa forma, um inverno rigoroso. A mulher que se tornou mãe está se re-conhecendo, aprendendo a lidar com aquela vida que depende inteiramente dela, e isso não é nada fácil. Mais uma vez, as mães que passaram por isso vão entender bem.

E aí, para colocar a cereja no bolo, o Imbolc é 40-45 dias após o Yule – o período de resguardo da mulher após o parto. Coincidência? Talvez, mais faz mais sentido ainda. No Imbolc, o frio mais pesado passou, já dá pra sair de casa de novo. A Deusa está mais adaptada a sua nova realidade, a seu papel de Mãe, e o período mais difícil com seu recém-nascido passou. Hora de limpar a casa e voltar às atividades.

E então a Deusa continua acompanhando o crescimento de seu filho, até que ele se torna seu Consorte, ela engravida novamente, vive o luto novamente e se torna Mãe mais uma vez. Assim como Deus nunca é o mesmo, a Deusa nunca é a mesma a cada Roda. Ela não morre fisicamente, mas renasce a cada ciclo, pois ela vive com o Deus, se transforma com cada gestação e cada Amor vivido.

Dá toda uma nova perspectiva para celebrar a Roda do Ano, não? =)

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Aileen é consagrada à Deusa Isis/Aset, cuida do site e do Youtube da TCS e é autora de dois livros: Vivendo Isis (2018) e A Magia das Estrelas (2019), o primeiro livro em português de Magia Estelar.