Fadas, forças da natureza

Texto de Owen Stelyus

Costumo dizer que as fadas são uma forma cultural, religiosa e histórica que o ser humano, em um momento específico, se utilizou para interpretar energias e forças da natureza, da mesma forma que diversas outras mitologias foram desenvolvidas com o mesmo propósito. Ainda, o conceito de fada evoluiu e se tornou uma egrégora muito forte, se transformou com o tempo e hoje paira entre diversas culturas que a princípio nada tinham a ver com a cultura que as originou. Não as entendo como pessoinhas com roupas brilhantes e asas rosadas espalhando Glitter ao seu redor. Quando notamos o ciclo das estações, o germinar de uma planta, a colheita da época, o nascimento ou a morte de um animal, estamos tendo contato com a energia das fadas. Apesar disso, é importante entender como as fadas surgiram no contexto dos celtas, como elas são representadas hoje na magia e na cultura atual a fim de aprofundar o contato com sua egrégora e descobrir sua própria forma de interagir com a magia das feérica.

Geralmente associamos as fadas à mitologia celta, justamente porque sua história começa lá. Para alguns as fadas surgiram de um povo que, devido ao surgimento de religiões que os perseguiam, fugiram e passaram a viver uma vida nômade entre as florestas. Hoje interpretamos as fadas como sendo a própria natureza, a força dos elementos, os ciclos da natureza e toda a dinâmica natural. As fadas podem ser entendidas pelos ciclos de transmutação da natureza, o ciclo da água, a germinação das sementes, os terremotos e maremotos, os ciclos humanos como sono, sonhos, gravidez, guerras, mortes etc. Não existe, assim, uma forma única para a representação do Povo Pequeno e isso depende de vários fatores, como o grupo ao qual pertencem, que em outros textos explicarei. Também vale lembrar que fadas não são apenas do gênero feminino, podendo estar até mesmo, fora do espectro binário, uma vez que estes conceitos estão relacionados a uma cultura de nosso plano de existência e não necessariamente de outros.

Estes espíritos da natureza vivem em um outro plano e, por conseguinte, de vibração energética diferente, mas que intersecta nosso mundo e interfere nele da mesma forma que nosso mundo afeta outros. Pelo costume de nomear “Sidhe” os locais nos quais se poderia encontrar habitats de fadas, esse termo se tornou sinônimo para estes seres. Entre os celtas, fadas possuem tamanhos comparados aos humanos e até se relacionam com estes, tendo filhos “meio fadas”. Alguns desses locais associados às fadas são montes e colinas sagradas, anéis de cogumelo que nascem na natureza, portais de galhos de árvores, cachoeiras etc. Os momentos mais propícios de conexão entre os dois mundos são no Beltane, Litha e Samhain, quando o véu que separa nossos mundos fica menos denso. Ainda, a maré energética desses momentos pode influenciar nas classes de fadas que estarão mais presentes.

Ao contrário de elementais que se restringem às certas esferas de energias específicas, como água, terra, ar e fogo, fadas podem se regentes de fenômenos variados que englobam diferentes elementos (mas podem ser específicas de um ou outro), como amor, tristeza, alegria, mofo, podridão, vida e morte, apenas para citar alguns. O Povo Pequeno também possui um código de ética e costumes muito diferentes do nosso e, por isso, recomendo que sempre haja uma divindade que faça o intermédio à relação fadas-humanos.

Existem deusxs celtas específicos que são considerados diretamente ligados às fadas, assim como todos os Tuatha de Danan.  A maioria dos Deuses especificamente fadas são da polaridade feminina, mas existem Deuses fados também, como Gwyin Ap Nudd.

Alguns exemplos de divindades fadas são: Achtland, Aeval, Aimend, Aine, Aisling, Airmad),Almah, Andarste, Anu, Badb, Banbha,Bebo, Biddy Early, the White Witch of Claire, Blai, Bo Dhu, Bo Find, Bo Ruadh, Bri, Branach, Cethlion, Cred ou Creide, Dana ou Danu, Dubh Lacha, Eadon, Edain ou Etain, Edain Oig-deusa, Eile, Eire, Emer,Eri, Ernmas, Etan, Etar, Ethne, Fachea, Fea, Fedelma, Finncaev, Franconian-Die-Drud, Fuamnach, Grian, Inghean Bhuidhe, Lassair,Latiaran, Locha, Meave (Medb, Madb, ou Mayv),Maire Ni Ciaragain, Mare, Messbuachallo, As Morrigan ou As Morrigu, Macha, Nemian, Odras, Onaugh ou Oona, Saba ou Sadb, Scena, Scota, Taillte.

Entre os gregos há alguns espíritos da natureza como as Dríados e Hamadríades, que são espíritos de árvores que protegem as árvores de possíveis ameaças, amaldiçoando quem as prejudicam e morrendo quando uma árvore é cortada ou morta de alguma forma. Pan é um Deus que se envolve de maneira direta com as Dríades, assim como os sátiros. Dionísio também é um Deus que mantém contato com todos esses seres. Gaia, como sendo a Grande Mãe Natureza, também pode auxiliar no contato com fadas, entendendo essas últimas como espíritos da natureza.

Tomando o devido respeito com as diversas culturas, se ampliarmos o conceito de fada para um espectro amplo de seres da natureza, podemos afirmar que Deuses da natureza das respectivas culturas também poderiam facilitar o contato com as fadas, como Cernunnos, Vênus (que a princípio era uma Deusa dos Jardins), Fauno, Flora, Artemísia, Demeter, Perséfone entre outrxs.  Os Bali e Lombok por exemplo, cuja religião é o Bali-hinduísmo, cultuam e honram os espíritos das árvores e montanhas, e sua religião se baseia nos Deuses Java e Bali. Na cultura nativo-brasileira, Caipora era ou é uma Deusa ou um espírito protetor da Natureza, assim como Boitatá. Nesse sentido, podemos considerar que poderiam ajudar no contato com as fadas. Para a Wanen, Mardoll, Njörd e Rowana são deuses Fadas ou com aspecto Fada.

O Povo das Fadas pode ser compreendido em duas regências ou cortes amplas. A que rege o ano decrescente (Entre o Litha e o Yule) são as da corte do inverno, cujas cores são o azul e o prata e são chamadas de Unseelie. Em termos de elementos, essa corte engloba de maneira mais intensa o elemento Ar e as Trevas, o Caos. São as fadas sombrias, regidas por Aiofe (donzela, a que será), Leannansidhe (Mãe, a que é) e Maev (Anciã, a que foi). As Fadas desse grupo lidam com energias caóticas e podem se mostrar mais selvagens, anárquicas e imprevisíveis. Mesmo assim, é necessário ter sabedoria para aprender as lições que elas têm para nos oferecer, bem como sua magia, tão necessária quanto qualquer outra.

As fadas que regem o ano crescente (entre o Yule e o Litha) são as fadas da corte do Verão, ou Seelie. Esta corte está sob o reinado de Aisling (donzela, a que será), Aine (Mãe, a que é) e Titânia (Anciã, a que foi). Em termos de elementos, lidam especificamente com a Terra e a Luz, a Ordem. Podemos relacioná-las com as cores verde e o dourado. As virtudes geralmente associadas a eles são: honestidade, justiça, compaixão, coragem, esperança, fé, integridade, riso e alegria.

Na noite mais longa do ano, no Yule, a Rainha do Inverno está no seu auge de poder e oferece o bastão de poder para a Rainha do Verão, que possibilita que os dias se tornem mais longos e quentes, uma vez que o Sol “estará mais temo no céu” e com uma inclinação muito menor em relação ao horizonte. O reinado da Rainha do Verão se estende até o dia mais longo do ano, quando estará em seu auge de vigar. É então que ela passa o poder adiante para a Rainha do Inverno. De forma análoga, os dias ficam mais curtos e as noites cada vez mais longas. O ciclo continua em uma dança entre dia e noite, luz e escuridão, calor e frio.

Um dos símbolos das fadas é a estrela de sete pontas. Cada uma das pontas representa uma virtude: humildade, respeito, confiança, gentileza, verdade, honra e dignidade. Este símbolo pode ser consagrado para ser colocado no altar de fadas e utilizado como um portal e ponto de conexão com as fadas. Em termos de oferendas, há o costume de se oferecer coisas brilhantes, coloridas e doces para fadas da corte do verão. Para a corte do inverno, geralmente são oferecidas coisas menos doces, como menta, hortelã, chocolate meio amargo e café sem açúcar. Para ambas as cortes, água, leite e frutas são oferendas costumeiras. Como cada fada também possui uma personalidade própria, você pode encontrar fadas que possuem gostos bastante peculiares e te peçam diferentes tipos de oferendas, esteja atento!

Por último, vale ressaltar que as fadas, esses seres mágicos tão complexos e diversos, também recebem outros nomes, como o Povo Antigo, Povo Nobre, Povo da Colina, Povo do Mar e Bênçãos da Mãe. Também é importante ter em mente que fadas são muito diversas e não existem classificações absolutas que as definam, pois possuem diferentes formas, gostos, regências e personalidades. As fadas estão em tudo que nos cerca, elas movem os ciclos da natureza e nossos próprios ciclos. Conhecer e trabalhar com as fadas é se conhecer também.



Blessed Be!

Owen Stelyus ✩

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Iniciado da Tradição Caminhos das Sombras

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